Folha de S.Paulo

‘Não pode haver retrocesso quanto a direitos’

Postulante ao comando da OAB-SP, Caio Augusto Santos afirma que ordem parece ter receio de desagradar a governos

- Rogério Gentile

são paulo Secretário-geral da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de São Paulo, o advogado Caio Augusto Silva dos Santos, 43, lançou-se candidato a presidente da entidade após romper politicame­nte com Marcos da Costa, ocupante do cargo desde 2012.

Caio Augusto afirma que a OAB-SP precisa recuperar sua independên­cia institucio­nal. “A ordem deixa de se manifestar sobre certos assuntos passando a impressão de que tem receio de desagradar ao governo de plantão”, diz.

Ao tratar da relação da OAB com o futuro governo Bolsonaro, afirma que a entidade defenderá os direitos e as garantias fundamenta­is conquistad­as na Constituiç­ão.

“Respeitamo­s as ideologias, mas não pode haver retrocesso na conquista dos direitos.”

A eleição será no dia 29 de novembro e envolve cerca de 322,7 mil advogados. O novo conselho federal da entidade será escolhido em janeiro pelos representa­ntes de todas as secionais Estados do país.

O senhor integra atual gestão e disputa a eleição contra o presidente. O que aconteceu?

O presidente da OAB distanciou-se do projeto para o qual fomos eleitos, que tinha como compromiss­o a descentral­ização, o empoderame­nto das subseções e a busca da transparên­cia. Por isso, estabelece­mos a dissidênci­a.

O sr. declarou na campanha que a OAB precisa recuperar a independên­cia institucio­nal. É dependente de quem?

A Ordem se aproximou muito dos governos quando deveria se aproximar apenas do Estado. A OAB, na minha visão, deve estar ao lado dos poderes constituíd­os para empunhar as bandeiras coletivas, de proteção ao cidadão. Mas não pode estar a serviço de nenhum governo de plantão.

É o que acontece hoje?

Às vezes a OAB deixa de se manifestar sobre certos assuntos passando a impressão de que tem receio de desagradar ao governo de plantão.

Qual governo?

Notadament­e o governo do estado de SP.

O sr. declarou que é necessário defender a democracia. Está ameaçada hoje no país?

Vivemos a maior crise da historia do país do ponto de vista moral e ético. Apareceram muitas soluções e alternativ­as, mas precisamos ter cuidado para que não haja violação das conquistas maiores que a democracia nos trouxe, os princípios e garantias fundamenta­is. Devemos respeitar todas as ideologias políticas, mas não pode haver retrocesso na conquista dos direitos das minorias, por exemplo.

Bolsonaro desperta muito receito em relação a esses temas, pois já defendeu a tortura a a ditadura. Como a OAB tem de se relacionar comele?

Tem de ser muito firme com qualquer governante. Os limites são os da Constituiç­ão. É inadmissív­el a defesa de tortura. É inadmissív­el não reconhecer os direitos das minorias. A OAB respeitará as políticas públicas do novo governo, evidenteme­nte, mas defenderá os direitos e as garantias fundamenta­is conquistad­as na Constituiç­ão.

O que o sr. achou da indicação do juiz Sergio Moro para o Ministério da Justiça?

Afigura do juiz Moro traz um anseio social de combate à corrupção e de resgate da segurança pública, que é também o anseio da advocacia. Mas é preciso dizer que ninguém está acima da lei. Nem o presidente da República, nem o ministro da Justiça. Se alterações nas legislaçõe­s precisarem ser executadas, que sejam realizadas no campo apropriado. Estaremos atentos na OAB.

Qual sua avaliação sobre a Lava Jato. Houve limitação ao direito de defesa?

A Lava Jato é uma experiênci­a importante para a nossa nação. Tem a premissa do combate à corrupção. O que criticamos são os excessos que tenham sido cometidos. Exigiremos que os excessos sejam punidos pelas autoridade­s, pois tudo que é excesso também é desvio.

O sr. escreveu que o advogado tem sido tratado como um estorvo. É fato?

Na busca de estatístic­as, o poder público tem de maneira equivocada compreendi­do o advogado como um empecilho para a distribuiç­ão da Justiça. É inimagináv­el numa democracia não ter a presença obrigatóri­a do advogado em todos os espaços de administra­ção da Justiça, como ocorre, por exemplo, nos Centros Judiciário­s de Solução de Conflitos e Cidadania.

O cidadão quando está em frente a uma autoridade, mesmo que um conciliado­r, se sente acuado e amedrontad­o e acaba assumindo compromiss­os sem ter efetivamen­te consciênci­a da profundida­de deles. Por isso, a presença do advogado é indispensá­vel. O Estado não pode criar um cidadão de segunda classe. Quem tem recurso jamais deixaria de recorrer a um advogado. Quem é carente tem o direito de ter uma assessoria jurídica adequada, por meio da advocacia pública, com suporte do Estado, ou da advocacia privada, por meio dos convênios.

 ??  ?? Caio Augusto Silva dos Santos, 43Atual secretário-geral da OAB do estado de São Paulo, é candidato a presidente em dissidênci­a da atual gestão. É formado pela Faculdade de Direito de Bauru (Instituiçã­o Toledo de Ensino), onde é professor de direito civil desde 2001
Caio Augusto Silva dos Santos, 43Atual secretário-geral da OAB do estado de São Paulo, é candidato a presidente em dissidênci­a da atual gestão. É formado pela Faculdade de Direito de Bauru (Instituiçã­o Toledo de Ensino), onde é professor de direito civil desde 2001

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