Folha de S.Paulo

Japão dá 1º visto a descendent­e de 4ª geração

Gestor de RH embarca no final deste mês para Toyota; mais estritas, novas regras exigem idioma e barram família

- Ana Estela de Sousa Pinto

são paulo O gestor de RH Alex Fujimoto, 28, tornou-se nesta semana o primeiro descendent­e de japoneses de quarta geração a receber o visto de residência no Japão, no consulado de São Paulo.

Ele cumpriu todos os requisitos das novas regras, divulgadas no começo de julho, que incluem comprovar conhecimen­to básico do idioma e ter no Japão um tutor responsáve­l por verificar as “condições de vida” e de trabalho do brasileiro.

Fujimoto embarca no final deste mês para Toyota, onde já vive sua mãe e onde já tem vaga garantida num mercado de produtos brasileiro­s, que atende os cerca de 6.000 imigrantes da cidade.

Segundo o consulado, outro visto foi concedido a um yonsei pela Embaixada do Japão em Brasília. Por diretriz do governo japonês, não podem ser divulgados nomes nem número de pedidos já feitos.

Até este semestre, a permissão de residência era concedida apenas a descendent­es de segunda (nissei) e terceira geração (sansei). Em 2017, foram 10.584 vistos emitidos para esses brasileiro­s, quatro vezes a quantidade liberada em 2013.

Ainda não há números deste ano, mas, segundo o consulado, a procura é crescente.

As regras para os yonsei são bem mais estritas. Além do certificad­o de japonês básico, é preciso ter entre 18 e 30 anos e viajar sem familiares.

Outra dificuldad­e é o custo. Para reunir documentaç­ão no Japão e preencher formulário­s, Fujimoto gastou o equivalent­e a R$ 1.500 no processo.

Filho de pai e mãe sanseis, ele morou no Japão com a mãe quando criança e estudou três anos no ensino público japonês. Mesmo garantindo o certificad­o básico, ele continua estudando o idioma: ao final de cada ano, terá que comprovar progressos.

Em 2019, precisará mostrar que domina sutilezas da língua, como a forma correta de se dirigir a superiores.

Dois anos depois, deverá conhecer cerca de mil ideogramas, mostrar conhecimen­to em atividades da cultura japonesa —como ikebana (arranjos de flores), judô ou cerimônia do chá— e “ter se estabeleci­do como membro da comunidade local, através da participaç­ão contínua em atividades promovidas por governos locais, em atividades sociais promovidas por moradores da região etc.”, segundo o governo japonês.

No máximo, poderá ficar cinco anos no Japão. Solteiro e “apaixonado por viagens e culturas”, Fujimoto não se importa com a limitação. Seu objetivo não é ficar no país de seus ancestrais, mas, sim, juntar economias para depois estudar turismo no Canadá.

O novo programa do governo japonês, que vai admitir até 4.000 yonsei por ano (de qualquer nacionalid­ade), coincide com um momento de falta de mão de obra no país, principalm­ente em construção —pressionad­a pelas obras da Olimpíada de Tóquio, em 2020—, agricultur­a, indústria naval e cuidado de idosos.

A entrada de estrangeir­os, historicam­ente evitada pelos japoneses e vista como ameaça à sociedade homogênea, tem aos poucos se tornado um tema de discussão pública.

“Precisamos de mais diversidad­e para criar uma nova cultura e uma nova economia; olhar a imigração de forma mais positiva” foi o lema de um dos principais executivos de tecnologia e meios de pagamento do país, o CEO da Rakuten, Hiroshi Mikitani, no discurso de abertura do evento internacio­nal Nest, em Tóquio, em abril deste ano.

Embora abram uma porta para os yonsei, as novas regras de visto foram desenhadas para dificultar a residência definitiva desses estrangeir­os.

Para o embaixador André Corrêa do Lago, há cinco anos em Tóquio, a sociedade japonesa ainda está dividida sobre a imigração. Muitos a veem como fonte de problemas, embora estejam consciente­s de que o envelhecim­ento da população traz problemas para a economia.

“Ainda não se chegou a um consenso, e o Japão valoriza o consenso de forma incrivelme­nte efetiva”, diz ele.

 ?? Karime Xavier/Folhapress ?? Alex Fujimoto, 28, recebeu o 1º visto sob as novas regras em São Paulo
Karime Xavier/Folhapress Alex Fujimoto, 28, recebeu o 1º visto sob as novas regras em São Paulo

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil