Merkel diz que Alemanha tem dever de barrar antissemitismo
Em sinagoga, chanceler lembrou o 80º aniversário da Noite dos Cristais
berlim A Alemanha tem o dever moral de conter o crescimento do antissemitismo, disse nesta sexta-feira (9) a chanceler alemã, Angela Merkel, que discursou em uma sinagoga de Berlim na cerimônia do 80º aniversário da Noite dos Cristais, episódio símbolo do início da perseguição violenta dos nazistas aos judeus.
Vestida de preto, Merkel afirmou que a violência contra judeus está crescendo na Alemanha de hoje, oito décadas depois.
“A vida judaica está florescendo novamente na Alemanha, um presente inesperado para nós após o Shoah”, disse a líderes judeus, utilizando a palavra hebraica para o Holocausto. “Mas também estamos testemunhando um preocupante antissemitismo que ameaça a vida judaica em nosso país.”
Nesta sexta-feira, a Alemanha e a Áustria relembraram a “Kristallnacht” (Noite dos Cristais), uma onda de assassinatos, saques e destruição de propriedades judaicas iniciada no dia 9 de novembro de 1938.
O nome é uma referência aos cacos de vidro que eram vistos nas ruas do lado de fora de sinagogas e de estabelecimentos comerciais ou residências de judeus.
Pouco antes do discurso de Merkel, um tribunal de recursos de Berlim reverteu uma decisão da polícia de proibir a realização de uma marcha de extrema direita nesta sexta-feira na capital alemã.
A polícia havia proibido o evento, afirmando que seria inaceitável realizar uma manifestação de extrema direita no mesmo dia em que o resto do país presta homenagem às vítimas da violência nazista.
A corte, por outro lado, reverteu a decisão com base nos direitos constitucionais de liberdade de expressão e de reunião. Uma manifestação opositora, liderada por grupos de esquerda, também estava prevista para a noite desta sexta.
Em setembro, em meio a protestos violentos de grupos da extrema direita na cidade de Chemnitz, um restaurante judaico foi atacado.
Ao lembrar das cenas de violência nessa cidade do leste da Alemanha, Merkel afirmou: “Essa forma de violência antissemita nos lembra do começo dos pogroms”.
A ascensão do partido de direita ultranacionalista AfD (Alternativa para a Alemanha) também fez crescer o temor na comunidade judaica.
Alguns membros da sigla, que hoje tem a maior bancada de oposição no Parlamento alemão, já afirmaram que o país precisa rever sua abordagem da história, que, para eles, estaria muito centrada na vergonha do Holocausto.