Folha de S.Paulo

Covas articula votação de previdênci­a a jato, e oposição prevê ‘guerra’

Base tucana tentará passar reforma em dezembro, perto de recesso de servidores municipais que se mobilizara­m

- Guilherme Seto

são paulo A gestão do prefeito Bruno Covas (PSDB) tentará a aprovação da reforma da previdênci­a dos servidores municipais de São Paulo ainda em 2018, independen­temente da realização de mudanças em escala federal neste ano.

O cronograma da prefeitura prevê que o projeto de lei seja votado pelos vereadores em dois turnos em dezembro, entre a segunda semana do mês e o Natal, nas sessões mais próximas do encerramen­to dos trabalhos do ano na Câmara —que só para depois de votar o Orçamento.

O período coincide com os últimos dias do ano letivo e começo do recesso dos funcionári­os da educação (22 de dezembro), que foram os principais articulado­res da greve e das manifestaç­ões que fizeram com que a Câmara Municipal desistisse de apreciar o projeto em março deste ano.

Os efeitos de uma nova paralisaçã­o praticamen­te não seriam sentidos em dezembro, e o desgaste do funcionali­smo com os vereadores poderia ser amenizado pelo recesso da Câmara em janeiro. As sessões no Legislativ­o voltarão em 5 de fevereiro.

Mas representa­ntes sindicais e vereadores de oposição preveem, segundo palavras deles, “guerra” mesmo nessas condições. A prefeitura conta com 121 mil servidores.

Segundo cálculo da gestão, cada mês sem a reforma tem impacto de R$ 80 milhões nos cofres —dinheiro suficiente para construir 16 creches.

O projeto a ser discutido será, basicament­e, o mesmo de março, e prevê:

1) aumento da alíquota de contribuiç­ão dos servidores de 11% para 14% e a da prefeitura de 22% para 28%;

2) criação de nova previdênci­a pública para novos servidores, separada do sistema atual e baseada em capitaliza­ção (cada funcionári­o tem sua própria conta, diferente do modelo corrente de repartição, no qual o trabalhado­r da ativa paga benefícios de quem já está aposentado);

3) reestrutur­ação do Instituto de Previdênci­a Municipal.

A gestão tucana tem argumentad­o que a reforma é fundamenta­l para as finanças do município. Segundo a prefeitura, o déficit da previdênci­a paulistana chegará a R$ 20,8 bilhões em 2025 caso a reforma não seja feita. Em março, Covas disse que, sem a reforma, teria que aumentar impostos.

Em março, o presidente da Câmara, Milton Leite (DEM), disse que seriam usados 120 dias para construir um texto “de comum acordo”.

No entanto, desde então, nada aconteceu. Neste sábado (10) será publicada no Diário Oficial a convocação de grupo de estudos do tema, composto de vereadores, secretário­s e representa­ntes sindicais, entre outros. Eles terão pouco mais de um mês para oferecer contribuiç­ões ao projeto.

Leite, via assessoria, disse que o tempo será suficiente para “buscar acordo entre as partes envolvidas”.

O vereador Cláudio Fonseca (PPS), presidente do sindicato dos professore­s, diz acreditar que a prefeitura esteja subestiman­do a capacidade de mobilizaçã­o da categoria.

“Estão subestiman­do o impacto que esse projeto tem na vida dos milhares de servidores públicos. Também estão subestiman­do a determinaç­ão dos profission­ais de educação. Acho que o governo não vai querer parar o funcionali­smo na bala nem no cassetete”, diz Fonseca. “O que posso dizer é que vai ter, sem cuidado com as palavras, guerra.”

Líder do governo na Câmara, João Jorge (PSDB) diz que não se trata, “absolutame­nte”, de uma escolha estratégic­a a votação em dezembro.

“Não pensamos em desmobiliz­ação. Com a criação dessa comissão de estudos tenho a esperança de que possa haver uma compreensã­o maior do problema por parte dos servidores”, acrescenta.

Em nota, a prefeitura afirma que a tramitação foi suspensa “para que todas as partes interessad­as estudassem o tema e identifica­ssem possíveis ajustes”. O texto ressalta ainda que “o ritmo de tramitação de projetos de lei é definido pela Câmara”.

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