Filhos de Bolsonaro adotam fala de Trump e chamam mudanças climáticas de farsa
Para cientistas, hostilidade da família em relação a temas ambientais pode arranhar a imagem do país e atrapalhar acordos comerciais
são paulo Não são só as ameaças do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), de sair do Acordo de Paris. Seus filhos têm um histórico de críticas e deboche em relação ao aquecimento global.
O Acordo de Paris foi assinado em 2015 por 195 países que se comprometeram a limitar o aquecimento global preferencialmente a até 1,5°C. Pelo acordo, o Brasil deverá reduzir em 37% suas emissões de gases de efeito estufa até 2025 e chegar a 43% em 2030.
No Brasil, a saída do pacto estaria condicionada à aprovação pela maioria na Câmara e no Senado —o PSL de Bolsonaro terá a segunda maior bancada na Câmara Federal.
“O aquecimento global proporcionando o dia mais frio do ano no Rio de Janeiro!”, escreveu o vereador Carlos Bolsonaro no Twitter.
“A nova dos destruidores de reputação e comedores de alfafa: quem ñ acredita em aquecimento global acredita em terra plana! É mta maconha! (sic)”, disse também.
Flávio Bolsonaro, senador eleito pelo Rio de Janeiro, referiu-se ao aquecimento global como farsa.
No início de 2018, o deputado federal reeleito Eduardo Bolsonaro gravou um vídeo em meio à neve nos EUA, no qual citou o presidente Donald Trump e a saída do pacto, e também disse que o aquecimento global é uma farsa.
Em outro post, disse: “O termo aquecimento global ficou muito cara de pau, então convencionaram mudar para mudança climática, como se a Terra durante toda a sua existência não estivesse em constante mudança. Mas não se engane, as intenções seguem as mesmas.”
Para o cientista político An- tonio Lavareda, o principal capital de um país que não é potência militar nem econômica é a imagem. “Há uma consciência global em relação ao ambiente e qualquer postura desafiadora em relação ao Acordo de Paris causaria um arranhão na imagem do país.”
O coordenador do Programa de Política e Economia Ambiental do FGVces (Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas), Guarany Osório, avalia que o aquecimento global é um problema que afeta a segurança nacional.
“O aumento de temperatura a médio e longo prazos faz com que eventos extremos sejam mais frequentes e severos. A mudança climática afeta a segurança hídrica, alimentar e energética. Desconsiderar isso em política de planejamento é o mesmo que negligenciar riscos futuros.” Para o especialista, o Brasil é um ator importante nos processos multilaterais sobre o clima.
Assim que anunciada a vitória de Bolsonaro, a ONG Observatório do Clima disse que fará cobranças pelo cumprimento das metas climáticas.
“Abandonar o tratado climático acarretaria em sérios problemas para os interesses econômicos e a imagem do país, que teve momentos de propagandismo na implementação do acordo. Provou que era possível reduzir emissões pelo combate ao desmatamento e serviu de exemplo para a comunidade internacional”, diz o secretário-executivo da ONG, Carlos Ritt.
Qualquer nação que sair do acordo pode ter a relação com a França abalada. Em seu discurso na reunião da Assembleia Geral da ONU, em setembro, o presidente francês, Emmanuel Macron, defendeu a exclusão de acordos comerciais com países que deixassem o Acordo de Paris.
E, ao parabenizar Bolsonaro pela vitória na eleição, o presidente francês falou em “princípios democráticos” e que espera manter a cooperação bilateral no âmbito da “diplomacia ambiental”.
O partido do presidente francês, A República em Marcha, chegou a dizer que Bolsonaro é cético em relação ao aquecimento global, homofóbico, sexista e racista.
“Sair do pacto significa deixar de cooperar para a solução de problemas que envolvem o aquecimento global, que é uma questão mundial, e o Brasil passaria a ser visto como um problema para o mundo”, diz Rittl.