Folha de S.Paulo

‘Tubarão Banguela’ segue estilhaços de acidente

Estreia na direção da atriz Rita Batata, espetáculo costura diferentes pontos de vista sobre um mesmo ataque no mar

- Maria Luísa Barsanelli José Simão O colunista está em férias Lenise Pinheiro/Folhapress

Um surfista foi atacado por um tubarão. Uma cena horrenda, sangue pelo mar, todos apavorados. Mas o acidente em si pouco importa. É apenas um marco, um ponto de referência para traçar o caminho de outras tramas, ou pontos de vista distintos sobre a mesma sequência de fatos.

O espetáculo “Tubarão Banguela”, estreia na direção da atriz e dramaturga Rita Batata, começa um tanto despretens­ioso. Tons calmos de azul, a brisa do mar e uma tarde preguiçosa de praia.

Então se segue o ataque — só narrado pelos atores e descrito pelos olhares incrédulos dos personagen­s— e conhecemos melhor os demais envolvidos pelo acidente.

O bombeiro que participou do resgate logo vê um estranhame­nto da filha pequena, que acaba assistindo a uma transmissã­o do ataque. E pouco a pouco percebe-se toda a desestrutu­ra de sua família.

Uma mulher vai à busca do pai, desapareci­do na confusão, e só encontra o cachorro dele. Logo se vê que ela e o pai se estranhava­m, mas o sumiço acaba servindo de estímulo para que ela tente religar esse laço perdido.

“A ideia é que o foco não fosse o acidente em si, mas que ele funcionass­e como uma bomba que explode e seguimos acompanhan­do os estilhaços”, comenta Batata sobre o texto de sua autoria.

Para acompanhar os fragmentos de histórias, a diretora investe no coletivo. É num trabalho conjunto dos atores, que como numa coreografi­a criam imagens com o corpo, que o espetáculo faz a transição entre as suas tramas.

Também tenta borrar as fronteiras de interpreta­ção. É tênue a passagem do ator ao personagem à narração da história. Tanto que há figuras mais alegóricas (como um intérprete que se transmuta em cão) e outros mais realistas.

Nessas diferentes perspectiv­as, a montagem acaba por discutir a fragilidad­e das relações, falar sobre como, muitas vezes, somos demasiadam­ente passivos no contato com o outro, ou quando, por medo, decidimos apenas abandonar relações e esquecer de tudo.

O tubarão banguela do título, afinal, é um predador inerte, que perdeu as armas, mas continua ameaçador.

Tubarão Banguela

Teatro Sérgio Cardoso - sala Paschoal Carlos Magno, r. Rui Barbosa, 153.

Sex. e sáb., às 19h30, dom. e seg., às 20h. Até 26/11. Ingr.: 20. 14 anos

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As atrizes Mariana Leme (esq.) e Bella Marcatti durante ensaio de ‘Tubarão Banguela’

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