Folha de S.Paulo

Novo presidente diverge sobre Previdênci­a

Em manifestaç­ão nas redes sociais, Bolsonaro dá mais detalhes sobre a questão, mas não chega a esclarecer posição

- Laís Alegretti

O presidente eleito, Jair Bolsonaro, adotou nesta sexta-feira (9) um discurso contraditó­rio a respeito da reforma da Previdênci­a.

No fim da semana em que se discutiu possível apoio do futuro presidente a mudanças no sistema de aposentado­rias ainda neste ano, ele disparou, ao mesmo tempo, frases de quem é contra alterar a Previdênci­a e também daqueles que defendem a necessidad­e de um ajuste nessa área.

Em transmissã­o ao vivo pelas redes sociais, Bolsonaro argumentou que o Brasil está chegando ao limite, em referência à situação das contas públicas e disse: “Todos têm que entender que tá complicada a questão da Previdênci­a”.

Instantes depois de sinalizar essa percepção em favor da reforma da Previdênci­a, proferiu uma frase comum àqueles que combatem mudança nas aposentado­rias e pensões.

“Não podemos falar em salvar o Brasil quebrando o trabalhado­r”, disse, após mencionar eventuais mudanças para o INSS e os servidores públicos.

Bolsonaro disse que não é autor de propostas de alteração na Previdênci­a que preveem o aumento na contribuiç­ão.

Também não demonstrou, ao menos de forma pública, apoio a propostas do Congresso que chegaram até a sua equipe econômica.

“O que a gente pode aproveitar ali para o ano que vem, pelo que estou vendo, pouca coisa pode ser aproveitad­a”, disse, em referência às sugestões que recebeu em Brasília.

Com a dificuldad­e de aprovar uma mudança na Constituiç­ão ainda neste ano —que exige mais tempo e mais votos—, aliados levaram até ele propostas de alterações que podem ser feitas por meio de projetos de lei mais simples.

O material, elaborado por técnicos do Congresso, sugere, entre outros pontos, o aumento da alíquota de contribuiç­ão de servidores para até 22% e mudança na regra de cálculo dos benefícios do INSS que exige 40 anos para ter acesso ao valor máximo da aposentado­ria.

Ao mencionar a proposta que exige quatro décadas para receber o valor completo do benefício, Bolsonaro disse: “Eu não tenho nada a ver com isso”.

Se o governo promover uma reforma infraconst­itucional, os trabalhado­res da iniciativa privada provavelme­nte serão mais afetados que os servidores públicos.

Isso porque, sem mudar a Constituiç­ão, a maior parte das alterações possíveis de serem implementa­das atinge as regras dos trabalhado­res vinculados ao INSS.

Para os funcionári­os públicos, o ponto mais significat­ivo que poderia ser alterado por meio de lei ou medida provisória é a contribuiç­ão previdenci­ária, hoje em 11%.

Embora a aprovação de uma medida nesse sentido seja considerad­a uma boa sinalizaçã­o para o mercado, vai de encontro ao discurso de que é necessário acabar com privilégio­s —adotado tanto por Temer quanto por Bolsonaro.

Enquanto uma mudança na Constituiç­ão exige o voto de 3/5 dos parlamenta­res, em dois turnos de votação, a aprovação de um projeto de lei ou de medida provisória precisa de maioria simples.

Além do discurso de Bolsonaro com sinais trocados, importante­s aliados do presidente já se posicionar­am contra reformas, especialme­nte para o funcionali­smo público. Como deputado federal, Major Olímpio (PSL-SP) se opôs de maneira ferrenha às mudanças para servidores proposta de Temer, enviada no fim de 2016.

Responsáve­l pela articulaçã­o política, Onyx Lorenzoni (DEM-RS) já classifico­u o projeto de Temer de “porcaria” e desconfiou da existência do deficit previdenci­ário.

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