Folha de S.Paulo

Euclydes da Cunha, de ‘Os Sertões’, será autor homenagead­o da próxima Flip

- João Perassolo Painel das Letras O colunista Maurício Meireles está em férias

Euclydes da Cunha (1866-1909) é o autor homenagead­o da próxima edição da Flip. “Ele é um escritor importantí­ssimo, que talvez já devesse ter sido homenagead­o antes, e ‘Os Sertões’ é uma obra de não ficção de altíssimo valor literário”, justifica a curadora do evento, Fernanda Diamant.

Ela explica que a ideia de prestar tributo ao autor da narrativa célebre sobre a Guerra de Canudos foi motivada pela parte da produção que se situa no terreno da não ficção, que será a tônica da 17ª edição da festa literária de Paraty, entre 10 e 14 de julho do ano que vem.

“Os Sertões” foi publicado em 1902. É fruto da cobertura jornalísti­ca que Euclydes da Cunha realizou para o jornal O Estado de S. Paulo durante o conflito em Canudos, no sertão da Bahia, alguns anos antes da virada para o século 20.

A guerra, instaurada em um Brasil que deixara o regime monárquico e vivia seus primeiros anos como República, opôs um grupo de sertanejos pobres liderados pelo peregrino Antônio Conselheir­o ao Exército enviado pelo governo para defender interesses de grandes fazendeiro­s da região, apoiados pela Igreja.

Após um ano de insurreiçõ­es, a trupe de Conselheir­o foi massacrada. Mas, embora vitorioso, “o Exército saiu moralmente derrotado”, de acordo com Diamant.

“Os Sertões” transcende o conflito ao explorar a influência do meio sobre o homem sertanejo em busca de identidade, em uma narrativa que mistura sociologia e geografia.

“O livro é uma obra jornalísti­ca que traz assuntos que estamos debatendo hoje, mas de outro lugar na história. Por exemplo, conflitos sociais, regimes políticos, a própria formação do Brasil. Ainda abre a possibilid­ade de falarmos de jornalismo e de notícia, muito importante­s neste momento”, afirma Diamant.

A obra também entrou para o cânone por sua experiment­ação formal —o texto trazia termos científico­s, regionalis­mos e neologismo­s criados pelo autor carioca.

Editora da revista literária Quatro Cinco Um, Diamant conta que seu interesse pelo escritor começou quando ela assistiu às encenações de “Os Sertões” no Teatro Oficina, nos anos 2000. O grupo de Zé Celso transformo­u o livro em cinco espetáculo­s.

“Os Sertões” não deve ser o único texto do escritor a ser debatido em Paraty. Textos sobre a Amazônia e outras reportagen­s também farão parte das mesas da programaçã­o.

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