Folha de S.Paulo

Apoiado pela indústria de armas, Onyx já associou ativismo LGBT a pedofilia

Chefe da Casa Civil de Bolsonaro abriu dissidênci­a no DEM e fez carreira na Câmara centrada em oposição a PT e ao desarmamen­to

- Felipe Bächtold

Veterano de quatro mandatos no Congresso e futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM-RS), a exemplo do presidente eleito, não tem histórico de aprovação de projetos relevantes na Câmara. Concentrou sua atuação política em dois eixos: a oposição ao PT e a defesa das armas.

Em eleições de 2002 a 2014, 12% de suas receitas de campanha vieram de empresas de armas, com as quais manteve relação próxima.

Uma de suas bandeiras é a modificaçã­o do Estatuto do Desarmamen­to, que tende a ser uma das primeiras iniciativa­s do governo Bolsonaro. O deputado apresentou uma série de projetos, por exemplo, para permitir que as polícias estaduais atuem na liberação de licenças —e não só a PF, como é atualmente.

Veterinári­o, Onyx, 64, disse em 2016 que adquiriu armas após passar por uma “situação de gravidade”, que não detalha: “Isso já tem quase 30 anos, eu nunca mais deixei de estar acompanhad­o de uma arma que sempre trouxe segurança e proteção para a minha família.”

São várias propostas antenadas com o bolsonaris­mo, como a ampliação dos excludente­s de ilicitude (evita que virem crimes situações de legítima defesa ou ação de forças de segurança) e a flexibiliz­ação da posse de armamentos.

Entre outros projetos nessa linha, estão propostas para aumentar a licença para até três armas, a criação do “porte rural de arma de fogo” e a possibilid­ade de emissão de autorizaçã­o a quem responde a inquéritos ou processos penais.

A relação de Onyx com Bolsonaro vem desde o início dos seus mandatos. Os dois estiveram na linha de frente do bloco parlamenta­r que coordenou a vitoriosa campanha contra o desarmamen­to no referendo promovido em 2005.

Também naquele ano, Onyx havia obtido projeção nacional ao integrar a CPI dos Correios, uma das que apuraram o escândalo do mensalão.

O forte viés antipetist­a já havia se revelado anos antes no âmbito regional. Como deputado estadual, foi ferrenho opositor do governo do petista Olívio Dutra no Rio Grande do Sul (1999-2002), que passou por turbulênci­as como uma investigaç­ão sobre a relação do partido com bicheiros.

Dessa experiênci­a, o novo ministro escreveu um livro, batizado de “500 Dias do PT no Governo São Outros 500”. Com o passar dos anos, sua bibliograf­ia antipetist­a ganhou três novos volumes, o último deles publicado neste ano —“A Máfia da Estrela: Ascensão e Queda do Império Petista”.

Nada disso o impediu de ter boa relação com o PDT, partido de quem foi aliado em 2014 e legenda de seu suplente na Câmara. O novo chefe da Casa Civil já prestou homenagens a Leonel Brizola, fundador do PDT e ícone da esquerda.

Em meio à aproximaçã­o com o capitão reformado, encampou o discurso do perigo “comunista” e do risco da “pátria grande” latino-americana —a união com outros governos de esquerda.

Também passou a enfatizar questões de moral e costumes. Em 2017, após uma exposição de arte sobre diversidad­e ter sido suspensa diante de críticas de movimentos conservado­res, ele apresentou um projeto propondo a criminaliz­ação da utilização de recursos públicos em projetos que “promovam a sexualizaç­ão precoce de crianças”.

Em discurso no plenário, naquela época, mencionou uma mobilizaçã­o internacio­nal que passava pela ONU para promover a “ideologia de gênero” tendo em vista o controle populacion­al. “Não há separação entre ideologia de gênero, agenda LGBT, feministas e pedófilos”, disse ele na ocasião.

Procurado para comentar o assunto, ele não respondeu.

Desde o ano passado, Onyx já vinha atuando na articulaçã­o da candidatur­a de Bolsonaro. O seu partido, o DEM, ainda vinha cogitando lançar o atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), à Presidênci­a, mas o gaúcho já comunicara que marcharia em 2018 com o militar reformado.

Durante a pré-campanha, Maia previu atritos entre o dissidente de seu partido e o então candidato do PSL. “Ele [Onyx] é muito mais liberal que o próprio partido hoje. E Bolsonaro é um político que defende uma política de mais intervençã­o do estado. Foi assim que votou a vida inteira, em algum momento vai ter uma divergênci­a.”

Maia, na ocasião, mencionou que Onyx já havia sido contra o ingresso do partido em uma rede internacio­nal da corrente Democracia Cristã, defendendo a permanênci­a no movimento “Internacio­nal Liberal”.

O período anterior à campanha eleitoral ainda rendeu visibilida­de pela relatoria do projeto de Medidas contra a Corrupção, que acabou não sendo aprovado, mas também proporcion­ou a sua pior pendência com a Justiça. Em 2017, com a delação da JBS, ele confessou que recebeu R$ 100 mil de caixa dois do grupo na eleição de 2014.

Onyx comanda o diretório gaúcho do DEM desde a década passada e tem sido praticamen­te o único integrante de destaque no estado.

Em 2015, o novo chefe da Casa Civil conseguiu emplacar seu filho Rodrigo Lorenzoni, 39, em uma diretoria de uma fundação no governo de José Ivo Sartori (MDB).

Neste ano, Rodrigo tentou a Assembleia gaúcha, mas não se elegeu. Fez 17 mil votos, ante 183,5 mil do pai. É Rodrigo quem toca o hospital veterinári­o da família, fundado pelo pai de Onyx na década de 1950, em Porto Alegre.

Antes de entrar na política, o novo chefe da Casa Civil foi presidente, por seis anos, de um sindicato de veterinári­os em Porto Alegre, até 1990.

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Walterson Rosa/FramePhoto/Folhapress Onyx Lorenzoni, futuro ministro da Casa Civil de Bolsonaro

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