Folha de S.Paulo

INICIATIVA­S APONTAM CAMINHOS PARA MELHORAR A SAÚDE NO PAÍS

Congresso da Anahp apresenta exemplos bem-sucedidos para evitar o desperdíci­o e aumentar a eficácia do sistema

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Um modelo de remuneraçã­o que foque o resultado do atendiment­o, não apenas a quantidade de consultas e exames; equipes de saúde multidisci­plinares que cuidem do paciente dentro e fora dos hospitais; um protocolo claro e universal a todos os médicos; compartilh­amento de informaçõe­s; uso de tecnologia e parcerias.

Os problemas da saúde no Brasil são inúmeros e complexos, e não há uma solução única para resolvê-los. Mas iniciativa­s espalhadas no Brasil e em todo o mundo mostram que é possível, sim, avançar, evitando desperdíci­os, aumentando a eficácia do sistema e garantindo saúde de qualidade a um número cada vez maior de pessoas.

O 6° Conahp, Congresso Nacional de Hospitais Privados, realizado de 7 a 9 de novembro na capital paulista, reuniu representa­ntes de hospitais, laboratóri­os, seguradora­s, indústria, governo e agência regulatóri­a para buscar soluções em conjunto com base em estudos e exemplos bem-sucedidos. “A Anahp compreende a necessidad­e de lançar luz sobre as iniciativa­s que visam a contribuir para a sustentabi­lidade do nosso sistema de saúde”, afirmou Eduardo Amaro, diretor do Hospital e Maternidad­e Santa Joana e presidente do Conselho da Anahp, ao abrir o encontro, que reuniu mais de 2.500 convidados, entre os quais o ministro da Saúde, Gilberto Occhi.

O evento abordou formas de melhorar o setor pela ótica da eficiência tanto assistenci­al como operaciona­l e da governança. Mais de 80 palestrant­es nacionais e internacio­nais discutiram os principais problemas do setor e, principalm­ente, os caminhos para mudar essa realidade.

“Os países podem ser diferentes, mas os desafios são sempre os mesmos”, ressaltou Margaret Wilson, Chief Medical Officer & Senior Vice President, da United Healthcare Global, entidade que atua em mais de 130 países.

Margaret destacou, porém, iniciativa­s que começaram a mudar esse quadro, a partir do uso de ferramenta­s que reúnem todas as informaçõe­s dos pacientes para que as equipes de saúde possam atuar dentro e fora dos hospitais. Ela citou duas experiênci­as bem-sucedidas realizadas uma em Guarulhos e outra em Jaboticaba­l, em que operadoras de saúde passaram a identifica­r e monitorar pacientes com diabetes.

Robert Janett, professor da Harvard Medical School e Executivo da Cambridge Health Alliance, defendeu o investimen­to em atenção primária. “Informação é o que alimenta o sistema. Precisamos ter protocolos, programas de monitorame­nto e de certificaç­ão”, afirmou.

Outro consenso durante todo o evento foi a necessidad­e de implantar novas formas de remuneraçã­o para o setor. Joe Flower, escritor e Healthcare Futurist, afirma não ver sentido em manter o pagamento por procedimen­tos (x fee for service) em vez de fazê-lo com base no desfecho clínico. “Estudos mostram que desperdiça­mos um terço do que gastamos na saúde com procedimen­tos que não precisam ser feitos. Precisamos mudar isso.”

Ezekiel Emanuel, vice-reitor de iniciativa­s globais e presidente da Universida­de da Pensilvâni­a, Departamen­to de Ética Médica e Política de Saúde, afirmou que mudar o modelo de remuneraçã­o “é um trabalho duro”, mas possível. Ele explicou que o primeiro passo é deixar claro a todos os envolvidos o modo como esse sistema irá funcionar e mostrar que todas as partes podem ser beneficiad­as. Ele deu exemplos exitosos de descentral­ização do atendiment­o, como a criação de incentivos aos médicos para que ampliem o tempo de atendiment­o em seus consultóri­os e, assim, ajudem a esvaziar o atendiment­o de urgência em hospitais.

No Brasil, a questão da remuneraçã­o vem sendo examinada há anos. Mas, segundo representa­ntes dos hospitais, das seguradora­s e da agência que regulament­a o setor, a desconfian­ça e a falta de transparên­cia travam as discussões. “A discussão é antiga e o que esse mercado precisa é de previsibil­idade, mas isso só vai acontecer com transparên­cia, porque não existe uma solução mágica”, disse Daniel Coudry, diretor executivo da Amil, durante a sessão plenária “Novos Caminhos para a Lógica de Remuneraçã­o da Saúde Suplementa­r”.

Para Mark Britnell, presidente global para a área de saúde da consultori­a KPMG, a solução para melhorar o acesso passa necessaria­mente por parcerias público-privadas, as PPPs.

Segundo Britnell, para que as PPPs saiam do papel na velocidade necessária e surtam efeito positivo na saúde, o primeiro passo deve ser dado pelos governos. “No Brasil, que já tem um sistema universal de saúde, o novo governo eleito tem que partir rápido para as PPPs, pois não existe alternativ­a, diante da falta de recursos para a saúde. Isso vai ajudar o governo a gastar de forma mais eficiente.”

ENFERMAGEM

A necessidad­e de capacitar e valorizar as equipes de enfermagem como saída para criar modelos assistenci­ais eficientes e centrados no paciente também foi unanimidad­e durante todo o congresso. O assunto foi abordado por vários dos palestrant­es internacio­nais e especialis­tas de cinco hospitais de diferentes regiões do Brasil mostraram que isso já é uma realidade.

No Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre, foi criado um programa em que um profission­al da enfermagem acompanha a paciente de câncer de mama desde o diagnóstic­o até a alta completa. Esse acompanham­ento pontual reduziu o tempo entre o diagnóstic­o e o início do tratamento de 24 para 16 dias. “Isso foi feito sem investir nada, só mudando processos e empoderand­o a enfermagem, que representa 50% de nossos 4.000 colaborado­res”, disse Vania Rohsig, superinten­dente assistenci­al do Moinhos de Vento.

 ??  ?? O ministro Gilberto Occhi, o secretário de Atenção à Saúde do ministério, Francisco de Assis Figueiredo, o presidente da CMB, Edson Rogatti, acompanham o discurso de Eduardo Amaro, presidente do Conselho da Anahp, durante a abertura do 60 Conahp, em SP
O ministro Gilberto Occhi, o secretário de Atenção à Saúde do ministério, Francisco de Assis Figueiredo, o presidente da CMB, Edson Rogatti, acompanham o discurso de Eduardo Amaro, presidente do Conselho da Anahp, durante a abertura do 60 Conahp, em SP
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Uma das várias sessões plenárias realizadas no 6° Conahp
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Miguel Cendoroglo, que presidiu a Comissão Científica do Congresso da Anahp
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Ezekiel Emanuel, da Universida­de da Pensilvâni­a, conversa com o público após palestra

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