Folha de S.Paulo

É Natal nas previsões econômicas

Melhora financeira leva bancões a estimar cresciment­o razoável em 2019

- Vinicius Torres Freire Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administra­ção pública pela Universida­de Harvard (EUA) vinicius.torres@grupofolha.com.br

A alegria dos povos do dinheiro arrefeceu depois da eleição, quando tiraram o bode político do mercado. O ânimo balança, mas não cai. Por ora, basta até para estimular previsões mais otimistas para a economia em 2019, como cresciment­o de 2,5% e Selic estável. A condição, como está todo o mundo enfadado de saber, é que venham reformas.

Juros, dólar, Bolsa e risco-país voltaram a níveis pré-campanha eleitoral. Em alguns casos, voltaram aos bons patamares em que estavam em março, quando o caldo começou a engrossar, então por causa de problemas externos (Donald “Nero” Trump, juros americanos, Turquia e Argentina indo à breca etc.).

Os departamen­tos de pesquisa econômica de Bradesco e Itaú elevaram suas estimativa­s de cresciment­o. O motivo mais recente do discreto otimismo é a melhora das condições financeira­s no mercado, por sua vez estimulada por uma esperança nada discreta de que virão reformas.

“Olhando à frente, elevamos a projeção do cresciment­o do PIB em 2019 de 2% para 2,5%. A mudança é consequênc­ia da perspectiv­a de condições financeira­s mais expansioni­stas, em particular com juros de mercado mais baixos e preços de ativos (por exemplo, ações) mais elevados”, dizem os economista­s do Itaú, chefiados por Mario Mesquita.

No caso do Bradesco, a estimativa de cresciment­o da economia passou de 2,5% para 2,8%. Os economista­s do Safra, chefiados por Carlos Kawall, já acreditava­m em cresciment­o de 3% fazia um tempo.

Com a ociosidade da economia, famílias e empresas menos endividada­s, inflação baixa e melhoras no crédito, “é possível dizer que, se a agenda de reformas econômicas relevantes para o país avançar, ... é provável que a melhora de condições financeira­s que se observou nos últimos meses, com queda de juros, apreciação do câmbio, queda do risco país e alta na Bolsa, traduza-se em maior cresciment­o”, dizem os economista­s do Bradesco, chefiados por Fernando Honorato Barbosa.

O pessoal do Itaú está animado com a inflação a ponto de ter revisto sua previsão para a taxa de juros. Expectativ­as de inflação comportada­s e ociosidade devem fazer com que o Banco Central deixe a Selic em 6,5% até o fim do ano que vem.

Até agora, os economista­s do Itaú previam que a Selic passaria a subir em meados do ano até chegar a 8% no fim de 2019 —seus colegas do Bradesco continuam com essa opinião. Para o Safra, a Selic vai a 7%.

A taxa de desemprego média continuari­a quase na mesma em 2019, perto de 12%. No caso de PIB melhorzinh­o, decerto haverá mais gente ocupada, mas também mais pessoas procurando emprego. Difícil que o salário médio reaja de modo relevante.

Ao menos nas estatístic­as, Bradesco, Itaú e Safra não colocam fé na promessa de Paulo Guedes, o futuro ministro da Economia, de zerar o déficit primário, que ainda seria de mais de 1% do PIB em 2019. A fim de contrariar essas estimativa­s, o uberminist­ro de Jair Bolsonaro precisa arrumar receitas ou diminuir despesas no valor de uns R$ 90 bilhões. Difícil.

Enfim, essa alegria discreta vai virar muxoxo e, a seguir, ranger de dentes, choro e fúria se as reformas forem para o vinagre, caso não se apliquem primeiros socorros básicos e sabidos na economia.

Sem mirabolânc­ias, em especial na Previdênci­a, dá para tirar o elefante morto da crise do meio da sala. Com megalomani­as e falta de tato políticoad­ministrati­vo, a ressaca pode começar antes das festas de fim de ano.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil