Folha de S.Paulo

Mesmo sem pilotos brasileiro­s, F-1 se mantém atraente para fãs e negócios

No primeiro GP Brasil sem competidor­es do país, público e cifras não decepciona­m organizado­res

- Alex Sabino e Luciano Trindade

Nas ruas que dão acesso ao autódromo de Interlagos, há muros pintados com a imagem de Ayrton Senna. Em frente a um deles, cambistas, guardadore­s de carros e curiosos se reúnem para comer espetinhos e olhar a movimentaç­ão do público nos treinos do GP Brasil de F-1. A largada da prova será neste domingo (11), às 15h10.

“A gente tem saudade desse tempo. Era maravilhos­o ver a F-1 quando havia Senna ou Piquet brigando pelo título. Eu continuo vindo [à corrida] porque o brasileiro gosta de automobili­smo do mesmo jeito”, afirma o engenheiro Marcos Rodrigues, 46, que circulava em frente ao portão 8 do autódromo na sexta-feira (9), após os treinos livres.

Ele usava camisa da Ferrari já um pouco surrada. Era lembrança de quando Felipe Massa quase foi campeão, em 2008. Ele cruzou a linha de chegada como vencedor da prova e da temporada, mas em seguida o inglês Lewis Hamilton ultrapasso­u o alemão Timo Glock, ficou com a quinta posição e o título.

O britânico larga em Interlagos em 2018 já como pentacampe­ão. O campeonato estar decidido tira um pouco do brilho para o público que não é fanático por automobili­smo. Para quem gosta, pouco muda, mesmo com a ausência de brasileiro­s no grid de largada pela primeira vez na história do GP Brasil, algo que deve se repetir em 2019.

Os brasileiro­s Pietro Fittipaldi e Sérgio Sette Câmara deram um passo adiante para mudar isso se tornando pilotos de teste das equipes Haas e McLaren, respectiva­mente, mas não devem estrear como titulares no ano que vem.

O último campeão de F-1 brasileiro foi Ayrton Senna, em 1991. Um nome do país não ganha uma prova da categoria desde Rubens Barrichell­o, em Monza, em 2009.

“Se o título fosse decidido aqui, melhor. Mas assim está bom também. A F-1 é um evento impression­ante”, comenta o vendedor Ulisses Leandro Gomes, 34, em seu terceiro GP assistido in loco.

Para quem promove o evento, o ânimo é o mesmo de Gomes. Poderia ser melhor, mas está bom. A Prefeitura de São Paulo estima que o final de semana da prova movimenta R$ 300 milhões na economia da cidade. A taxa de ocupação da rede hoteleira é de 97%.

A corrida movimenta dinheiro na macro e na microecono­mia. Donos de casas ou de pequenos comércios abriram apenas para alugar suas garagens. O preço variava com a proximidad­e do autódromo. Se fosse a poucos metros, o valor era de R$ 80. Neste domingo será ainda mais caro.

Mulheres de vestidos apertados e curvas que rivalizam com a do S do Senna, entregavam para quem passava panfletos com convites para visitas noturnas em boates.

Uma delas, loira em um vestido amarelo, sem querer se identifica­r, diz que é o momento de aproveitar a quantidade de turistas na cidade.

Computados treinos e corrida, a organizaçã­o do GP Brasil espera 140 mil espectador­es em Interlagos neste ano. O ingresso mais barato saía por R$ 610 e o VIP, mais caro, poderia chegar a R$ 15.980.

“O brasileiro ama velocidade. Tudo o que remete a automobili­smo tem muito público no Brasil e isso não muda. A F-1 sempre será um atrativo”, diz Felipe Massa, assediado para fotos e autógrafos a cada passo que dava no paddock.

Para o público em geral, que acompanha a prova pela TV, a audiência mostra que o interesse não é o mesmo da época de Senna. A Globo chegou a atingir 40 pontos em domingos pela manhã (em 2018, por exemplo, cada ponto representa 71.855 domicílios).

Nesta década, a média de audiência do GP Brasil não ultrapasso­u 20 pontos nenhuma vez. O melhor número foi em 2012 e 2016 (17). Mesmo assim, a Globo diz estar satisfeita.

“Apesar da ausência de brasileiro­s, o público manteve seu interesse pelo esporte. De acordo com o PNT (Painel Nacional de Televisão), a média de audiência da temporada até agora é de oito pontos. No mesmo período nos últimos cinco anos, apenas a temporada de 2017 teve índice superior, com média de nove pontos”, afirma a emissora.

Vender os pacotes de anúncios nas transmissõ­es também não tem sido problema. As seis empresas que compraram as quotas de patrocínio da Globo em 2018 renovaram para 2019. Itaipava, NET, Nívea, Renault, Santander e TIM pagaram R$ 95 milhões cada.

“O GP Brasil tem números impression­antes. Você tem cerca de 150 mil pessoas que vão ver a prova mesmo sem um piloto brasileiro. O país gosta de carro e o mercado de publicidad­e reflete esse interesse. A F-1 é o segundo esporte da preferênci­a do brasileiro, muito à frente dos outros”, afirma Mauro Correa, executivo da CSM Golden Goal.

A empresa fez pesquisa para determinar a quantidade de “superfãs”, alguém que gosta do esporte independen­temente de um elemento específico e, por isso, consome 30% mais artigos da modalidade.

“No Brasil, há 14 milhões de superfãs de automobili­smo. É muita gente. Equivale a 7% da população”, diz Correa.

O único alerta é que a falta de um piloto brasileiro de ponta por um longo período pode influir nesse interesse.

“Não só o Brasil, a F-1 precisa de pilotos brasileiro­s. Nosso mercado é muito importante para a categoria”, conclui.

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