Folha de S.Paulo

ESTRADA DO COCO (BA)

- Débora Yuri Litoral norte da Bahia

Mick Jagger toca tambor numa varanda apinhada. Rita Lee sorri, meia dúzia de flores no cabelo e um cigarrinho entre os lábios. Ney Matogrosso faz pose na lagoa e Janis Joplin, topless na praia, a onipresent­e garrafa em uma das mãos.

Um “on the road” pela Estrada do Coco, litoral norte da Bahia, pode ter sua primeira parada aqui: a aldeia hippie de Arembepe, alçada à fama nos anos 1970, quando recebia pencas de celebridad­es gringas e nacionais. Eram tempos de protestos contra a Guerra do Vietnã nos EUA. De Maio de 1968 na França, de Primavera de Praga, de resistênci­a às ditaduras militares na América Latina.

Hoje, no centro do povoado, murais com fotografia­s do passado transporta­m o visitante à sua era de ouro. Mas a natureza assumiu o papel de estrela número 1.

Distante 42 km de Salvador, a vila é rodeada por dunas que separam o rio Capivara do mar. Lagoas, restingas e coqueirais dividem a cena com hippies sobreviven­tes —eles vendem

artesanato, cuidam dos cachorros, improvisam batuques com os turistas. No Bar do Roque, que serve peixes grelhados e moquecas para dois a partir de R$ 65, cartões de crédito são aceitos. Sinal dos (novos) tempos.

A rusticidad­e desencanad­a de Arembepe se espalha por outros antigos vilarejos de pescadores da Estrada do Coco, como Barra do Jacuípe e Itacimirim —boas bases se você busca hospedagem mais econômica. Esse trecho do litoral nordestino, porém, tem atributos para seduzir diferentes perfis de viajante. Em Guarajuba e na Praia do Forte, grandes resorts e suas mordomias dão o tom.

Em comum a todos, praias belíssimas e aquilo que Dorival Caymmi já cantou: “A Bahia tem um jeito que nenhuma terra tem”.

Tem também uma fauna que dá o ar da graça em determinad­os períodos do ano. A temporada das baleias jubarte vai de julho a outubro (passeio de observação, R$ 190 por pessoa); já as tartarugas marinhas desovam na costa entre setembro e março.

Ao contrário da unidade turística da Praia do Forte, o Projeto Tamar de Arembepe mira a educação da população que vive na região metropolit­ana de Salvador (R$ 10 o ingresso, R$ 5 a meia). Fica ao lado da entrada da aldeia hippie, uma dupla “massa” de passeios no distrito, que pode virar um trio “bala” com a praia de Piruí, onde piscinas naturais se formam na maré baixa.

De volta à estrada por mais 10 km, chegase a Barra do Jacuípe, uma das paisagens mais encantador­as desse roteiro de areia em areia. Há fitinhas do Bonfim enfeitando as ruas, igrejinha branca e azul de vilarejo, águas calmas para tomar banho e o encontro entre o rio Jacuípe e o mar.

Com resorts e condomínio­s fechados, Guarajuba, a próxima parada, virou uma favorita das famílias. Calçadões e ciclovias tornam a experiênci­a de praia bem organizada —no Bar do Prefeitinh­o, em frente às piscinas naturais, peça uma “roska” e um par de caranguejo­s. Ou uma porção de lambretas (moluscos). Ou de bolinhos de peixe...

Dez minutos ao norte e você estará em Itacimirim, que abriga joias como a praia da Espera, quase deserta em certos trechos, quase traço de agitação noturna. Numa playlist mental, poderia começar a tocar uma música assim: “Além do horizonte, existe um lugar bonito e tranquilo pra gente se amar”.

Adiante, a Praia do Forte aguarda para fechar o pé na estrada. Mas deu vontade de fazer o novo hippie e continuar subindo?

Siga em frente. É a Bahia. É o Nordeste. Muita gente boa vai entender.

 ??  ??
 ?? BRIAN PHILLPOTTS/GETTY IMAGES ?? Barra do Jacuípe, a 50 km de Salvador
BRIAN PHILLPOTTS/GETTY IMAGES Barra do Jacuípe, a 50 km de Salvador
 ??  ?? Praia da Espera, em Itacimirim
Praia da Espera, em Itacimirim

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil