Folha de S.Paulo

CHAPADA DOS VEADEIROS (GO)

- Bruno Molinero Alto Paraíso (Goiás)

Chove, chuva. Chove sem parar.

Se Jorge Ben Jor tivesse composto esse clássico do disco “Samba Esquema Novo” (1963) na Chapada dos Veadeiros, certamente ele não rezaria para a chuva deixar de molhar o seu divino amor. Nessa região do cerrado goiano, declarada patrimônio mundial pela Unesco, ninguém mais reclama de tempestade, chuvisco nem garoa.

É que qualquer gota d’água ajuda o lugar a se recuperar do incêndio que devastou, em outubro do ano passado, 28% do parque nacional. Ao todo, mais de 66 mil hectares foram atingidos pelas chamas, tragando árvores e animais feito um rolo compressor.

Um ano depois, as cidades que formam o destino viram a natureza morrer para depois germinar. Tanto Alto Paraíso quanto Cavalcante assistem ao retorno do pavão silvestre, do tamanduá-bandeira e, dizem, até da onça. Buritis ainda têm cor nas veredas, enquanto pés arnica e aroeiras mostram vida.

“Estamos fazendo um trabalho de refloresta­mento para recuperar o cerrado”, diz Fernando Tatagiba, diretor do parque. O lugar tem entrada gratuita e não exige acompanham­ento de guias nas trilhas.

Na estrada rumo à vila de São Jorge, onde fica o acesso aos visitantes, já é possível ver paredões em que cachoeiras despencam. Mas, no chão, árvores negras e retorcidas ainda indicam as fronteiras do incêndio.

A garoa e as temperatur­as mais baixas nessa época do ano não tornam a caminha-

da tão cansativa. Mas atenção: é bom ter sempre uma capa de chuva na mochila. Por outro lado, a estação chuvosa e a época de cheia dificultam a entrada em grande parte das cachoeiras e locais aptos para banho.

O mesmo vale para o Vale da Lua. A atração cobra R$ 20 por pessoa e recebe esse nome por ter pedras que lembram a superfície lunar. Mas, de novembro a abril, nada de brincar com a gravidade na qual o homem flutua e dar um tibum. Nesses meses, o rio tem cor barrenta e não permite o mergulho.

Mas ninguém reclama. Ao contrário: brinda —e com cerveja artesanal. A chapada hoje é um polo de microprodu­tores.

Nos bares, vale procurar pelas garrafas da São Bento, da Colombina, da Chapadeira e da Aracê. Esta última, uma das primeiras a abrir as portas, foi criada por um casal de argentinos e vende cerveja de baru (espécie de castanha; R$ 20, 600 ml). Aí é só estender os copos, olhar o verde que renasce e cantar aquela música de Gilberto Gil: “Andar com fé eu vou, que a fé não costuma ‘faiá’”.

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 ??  ?? Cachoeira Saltos do Rio Preto, dentro do parque
Cachoeira Saltos do Rio Preto, dentro do parque
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Vereda de buritis na chapada

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