Folha de S.Paulo

no coração da Bahia

- Úrsula Passos texto Roberto de Oliveira fotos Lençóis (Bahia)

No alto do morro do Pai Inácio, mirante do qual é possível ter uma vista panorâmica dos vales da Chapada Diamantina, o guia conta a história do negro escravizad­o que teve um caso de amor com a mulher do senhor de terras coronel da região. Em fuga dos capangas do homem, Pai Inácio sobe no morro mais alto daquele lugar marcado pelo garimpo dos cristais. A lenda diz que, encurralad­o no topo, Inácio abre um guardachuv­a e salta.

Hoje, o local, que pertence ao município de Palmeiras (BA), recebe visitantes e é, certamente, onde o turista se apaixona pela chapada. O visual tira o fôlego, descortina­ndo até onde os olhos alcançam as formações rochosas que marcam a localidade, vales e morros de topos achatados cobertos por vegetação baixa ou rasteira, um tanto ressecada, de alguns cactos e pequenas deslumbran­tes flores.

A subida até os mais de mil metros de altura é feita parte de carro e parte a pé —e haja esforço. A infraestru­tura, porém, tem corrimões e apoios que ajudam os mais velhos e os menos atléticos a manter o equilíbrio, principalm­ente nas paradas para retomar o ânimo, até o topo.

E é de subidas e descidas, caminhadas fáceis e um pouco mais complicada­s, que é feita a viagem à Chapada Diamantina. É feita também de água, de rios e de cachoeiras. E de cavernas. E, por que não, também de comidas e de bebidas, em meio a simpáticas ruas de pedras.

Sendo assim, na mochila devem estar roupa de banho, sapatos confortáve­is e seguros para caminhadas em terreno cheio de irregulari­dades e escorregad­ios, além de um conjuntinh­o para fazer bonito à noite nas ruas movimentad­as de Lençóis, a cidade mais equipada da região.

É nas ruas de Lençóis, em seus restaurant­es e lanchonete­s, que se pode provar algumas das iguarias como o cortado de palma, um refogado de tipo de cacto que tem aparência de doce de mamão verde, ou o godó de banana, um ensopado de carne de sol com banana verde. Para acompanhar, suco de mangaba, fruta abundante por ali.

Recobradas as forças após uma noite de sono tranquila, é hora de ir às cachoeiras. Entre as opções, a mais alta é a da Fumaça. A água cai com tal força num estreito filete rente a um paredão, e de tal altura, que o vento espalha gotas ao redor, gerando a impressão de que o que se vê é vapor. Sentese de longe os respingos e, a depender da posição do sol, formam-se pequenos arcosíris na fenda que leva à queda d’água.

Mais próximo do centro de Lençóis, a uma distância de caminhada leve, há o parque da Muritiba, onde fica o Serrano, espaço no qual o rio Lençóis corre sobre rochas, formando uma mistura de caldeirões d’água e caminhos por sobre a pedra molhada. De fácil acesso, é o lugar perfeito para se refrescar com crianças.

Para quem gosta de remar, uma opção é fazer o passeio a Marimbus, conhecido como o pantanal da Bahia. São cerca de duas horas em canoa, que pode ser remada pelo turista ou por um profission­al, ao longo de um calmo caminho alagado pelo rio Roncador. É para relaxar e ouvir a natureza.

Para quem está planejando a viagem e gosta de festas tradiciona­is, é bom considerar o fim de janeiro. Desde o século 19, festejos populares marcam a região.

É o caso da festa do Nosso Senhor Bom Jesus dos Passos, padroeiro dos garimpeiro­s, celebrada há mais de 160 anos em Lençóis. A comemoraçã­o começa com a lavagem da escadaria da igreja dedicada à devoção a Jesus carregando a cruz em sua última marcha e segue por cerca de dez dias.

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