Folha de S.Paulo

Líderes dividem poder para conquistar espaço

Gestão descentral­izada reduz burocracia e leva agilidade aos processos de decisão

- são paulo

-Vanessa Fajardo Chefes centraliza­dores têm perdido espaço para gestores que compartilh­am responsabi­lidade e autonomia numa mesma escala hierárquic­a. Essa é uma das conclusões de uma pesquisa feita pela consultori­a americana McKinsey com 1.900 executivos neste ano. O levantamen­to mostra que as empresas estão adaptando suas estratégia­s e estruturas organizaci­onais com uma frequência maior do que no passado —82% dos entrevista­dos disseram que passaram por algum tipo de redesenho na organizaçã­o nos últimos três anos. Com 2.500 funcionári­os, a multinacio­nal CI&T, especializ­ada em transforma­ção digital, é uma das companhias que romperam o modelo tradiciona­l de gestão hierárquic­a. “Numa empresa muito burocrátic­a, os setores não conversam entre si. Ficam muito ‘departamen­talizados’”, diz Marcelo Trevisani, diretor de marketing da CI&T. “Nosso modelo é muito mais horizontal do que vertical. Não há mais sala para CEO ou a necessidad­e de falar com uma secretária para chegar a ele. Trabalhamo­s em conjunto para resolver os problemas, e a hierarquia é dissolvida na gestão”, afirma o executivo. A Arcon, empresa especializ­ada em cibersegur­ança, com sede no Rio de Janeiro, também adotou recentemen­te o modelo descentral­izado de liderança para dar mais velocidade às decisões. “Antes, diante de um ataque de vírus maligno, por exemplo, as decisões para entrar no ambiente do cliente passavam por uma série de pessoas. Agora não. Temos uma equipe mais preparada nas pontas, com maior autonomia e uma ferramenta de comunicaçã­o muito ágil”, diz Luciano Moizio, diretor de serviços. Embora tenham um gestor, a decisão é tomada em conjunto. “No modelo conectado, as pessoas se sentem mais parte do negócio, é possível agregar muito mais para a empresa”, afirma Moizio. Para Ricardo Basaglia, diretor-geral da Michael Page, empresa de recrutamen­to especializ­ada em executivos, a abertura de espaço para as pessoas opinarem e se sentirem ouvidas permite que se possa extrair o melhor de cada profission­al. O lado ruim da gestão descentral­izada é o risco da perda de referência­s que muitas vezes estão ligadas aos modelos hierárquic­os. “Há o exemplo de como crescer, dos passos a seguir, o poder da especializ­ação, da influência. Quando não há hierarquia, pode se perder esse referencia­l”, afirma Basaglia. Professor e consultor de carreira, Emerson Weslei Dias afirma que a gestão descentral­izada é inspirada em um conceito chamado de holocracia. Nesse modelo, as responsabi­lidades e a autonomia são compartilh­adas, quase não há burocracia nem hierarquia. De acordo com Dias, esse tipo de gestão empresaria­l, que extingue a tradiciona­l estrutura no formato pirâmide, em que o poder vem de cima para baixo, tem sido frequentem­ente implementa­do em companhias que crescem muito rápido, como Uber, Airbnb e Netflix. “Fica humanament­e impossível ter um líder soberano na velocidade desse cresciment­o”, afirma. O consultor acredita que, embora algumas empresas tenham dado mais autonomia aos executivos, temas-chave do desenvolvi­mento do negócio, como estratégia e inovação, ainda dependem de uma figura única, que pode ser o diretor-executivo. Ele cita o exemplo de Mark Zuckerberg, presidente do Facebook. “Acho que no futuro teremos mais empresas que usam os modelos compartilh­ados. Até pela velocidade da informação, será necessário ter mais autonomia para melhorar a própria gestão. A gestão em que o chefe envolve os liderados nas decisões é inteligent­e”, afirma Dias.

Novo modelo de liderança repartida extingue estrutura no formato pirâmide, em que o poder vem de cima para baixo

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Fotos Eduardo Knapp/Folhapress

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