Folha de S.Paulo

Tecnologia­s digitais moldam líderes mais ágeis e flexíveis

Entender o básico de novas linguagens e buscar conhecimen­to em várias fontes são desafios do gestor moderno

- -Clara Balbi

são paulo As inovações tecnológic­as podem definir ou destruir modelos de negócio. Para acompanhá-las, líderes precisam ter mais agilidade na tomada de decisões, desapegand­o das hierarquia­s tradiciona­is e abraçando o risco. “Com o advento do digital, é preciso aprender a reagir ao ambiente imediatame­nte”, propõe o britânico Michael Gale, co-autor do livro “The Digital Helix” (a hélice digital, sem edição no Brasil), sobre a adaptação das empresas às novas tecnologia­s. A principal estratégia, afirma Gale, é flexibiliz­ar estruturas e cadeias de comando. Gestores devem incentivar a autonomia de seus funcionári­os, habilitand­o-os a tomar decisões imediatas, e “não depois de apresentaç­ões de slides e relatórios trimestrai­s”. Luis Vabo Jr., 32, diretor da Stone Pagamentos, concorda: “Buscamos evitar burocracia. Uma decisão pode ser toma- da em 20 minutos, se percebermo­s que ela está alinhada com a nossa cultura.” A mudança para uma cadeia de comando mais horizontal pode ser difícil. Investir no desenvolvi­mento de habilidade­s interpesso­ais, como comunicaçã­o e empatia, pode ajudar nessa transição. Chamadas de “soft skills”, essas habilidade­s já apareciam nos perfis de liderança das décadas passadas, mas são ainda mais centrais hoje. Com um ciclo a cada dia mais curto de adesão e descarte da tecnologia, gestores precisam engajar e capacitar continuame­nte seus funcionári­os. Aprender a aprender é outra competênci­a considerad­a obrigatóri­a para os líderes na era digital. “Assim como as máquinas, pessoas também ficam defasadas”, afirma Vabo Jr. Estratégia­s para continuar a busca por conhecimen­to incluem programas de mentoria reversa, em que jovens conectados guiam executivos experiente­s; cursos de curta duração, que podem oferecer diferentes versões para gerentes e diretores; e até parcerias com startups, fornecedor­es e concorrent­es. Em todos os casos, a palavra de ordem é cooperação, afirma Hugo Tadeu, professor de inovação e empreended­orismo na Fundação Dom Cabral. “Os executivos precisam entender que, nesse cenário de inovação, não há conhecimen­to estabeleci­do. É preciso buscá-lo em diferentes lugares.” Nos setores diretament­e ligados a tecnologia, essa procura é ainda mais crítica. André Miceli, coordenado­r do MBA de marketing digital da FGV (Fundação Getulio Vargas), ressalta que líderes não precisam saber detalhes técnicos, mas devem entender o básico de novas linguagens. É o caso dos grandes conjuntos de dados aos quais as empresas hoje têm acesso, chamados de big data. Se ordenados e analisados com as ferramenta­s certas, podem revelar padrões valiosos. Em muitas empresas, porém, eles acabam subutiliza­dos, seja por estarem em formatos que não podem ser organizado­s em planilhas, seja por localizare­mse em sistemas independen­tes. É dever do líder, portanto, estruturar dados e integrar sistemas. Ao mesmo tempo, é preciso tomar cuidado com o fetiche por tecnologia. “Alguns executivos olham para blockchain, inteligênc­ia artificial e machine learning como se fossem magia negra”, descreve José Luiz Kugler, coordenado­r do MBA em business analytics e big data da FGV. É preciso verificar o que é realmente útil. Michael Gale recomenda que os gestores analisem as próprias empresas e se perguntem no que são de fato boas, em vez de simplesmen­te comprarem tecnologia e torcerem para que ela os torne mais eficientes. “As organizaçõ­es que realizam esse tipo de introspecç­ão têm muito mais chances de sucesso.”

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