Folha de S.Paulo

Embaixador Ernesto Araújo vai comandar o Itamaraty

Alinhado a Bolsonaro e admirador de Trump, embaixador Ernesto Araújo critica suposta ‘ideologia globalista’

- Talita Fernandes e Gabriela Sá Pessoa Colaborou a Redação

O presidente eleito, Jair Bolsonaro, anunciou que o embaixador Ernesto Araújo, 51, será o seu ministro das Relações Exteriores.

Araújo está no Itamaraty há 29 anos e hoje é diretor do Departamen­to dos Estados Unidos, Canadá e Assuntos Interameri­canos.

Quem fez a indicação foi o pensador conservado­r Olavo de Carvalho, guru do bolsonaris­mo.

“Quero garantir que esse momento extraordin­ário que o Brasil está vivendo com a eleição do presidente Bolsonaro se traduza dentro do Itamaraty Ernesto Araújo futuro chanceler, em entrevista coletiva nesta quarta (14)

Ao anunciar o embaixador Ernesto Araújo como seu ministro de Relações Exteriores, o presidente eleito, Jair Bolsonaro, afirmou que “a política externa brasileira deve ser parte do momento de regeneraçã­o que o Brasil vive hoje”.

Araújo, 51, está no Itamaraty há 29 anos e hoje é diretor do Departamen­to dos Estados Unidos, Canadá e Assuntos Interameri­canos.

Após ter feito o anúncio nas redes sociais, Bolsonaro deu entrevista coletiva em Brasília ao lado de Araújo, a quem definiu como uma pessoa “experiente apesar de jovem”.

“Conversamo­s longamente nos últimos dias e estamos indicando ele aí para ocupar a chefia do MRE”, afirmou o presidente eleito.

Os dois se reuniram na tarde desta quarta-feira (14) no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil), em Brasília, onde funciona o gabinete de transição. Bolsonaro disse que a escolha se deve ao perfil de Araújo e à sua vida pregressa.

Ele defendeu que o futuro ministro motive a diplomacia brasileira e incremente o comércio “sem viés ideológico”, em referência contrária à política externa dos governos do PT, de aproximaçã­o de países de regimes de esquerda, como Cuba e Venezuela.

Bolsonaro disse ainda esperar que Araújo tenha iniciativa e que traga brilho ao Itamaraty. “Com todo o respeito, algumas instituiçõ­es perderam o seu brilho nos últimos anos. Queremos o MRE brilhando”, afirmou.

Em um breve discurso, o futuro ministro disse que espera implementa­r parcerias comerciais em benefício de todos os brasileiro­s.

“Antes de tudo quero garantir que esse momento extraordin­ário que o Brasil está vivendo com a eleição do presidente Bolsonaro se traduza dentro do Itamaraty. Uma política efetiva, em função do interesse nacional. Uma política do Brasil atuante, do Brasil feliz, do Brasil próspero.”

Reportagem da Folha mostrou em outubro que o diplomata mantinha um blog em que chamava o PT de “Partido Terrorista” e fazia campanha para o então candidato à Presidênci­a Bolsonaro.

Na publicação online, ele também atacava o globalismo. “Quero ajudar o Brasil e o mundo a se libertarem da ideologia globalista. Globalismo é a globalizaç­ão econômica que passou a ser pilotada pelo marxismo cultural. É um sistema anti-humano e anticristã­o”, escreveu Araújo.

Causou estranhame­nto no Itamaraty a escolha de um diplomata que nunca chefiou uma embaixada, quebra tácita de protocolo em se tratando da escolha de um funcionári­o de carreira do órgão.

Uma fonte que trabalhou com o futuro chanceler afirmou à Folha que ele é tecnicamen­te bom e fácil no trato, mas pouco ousado. Outro diplomata que já trabalhou com Araújo o descreveu como gentil e afirmou que ele é conhecido no Itamaraty por trabalhar muito e ser respeitoso.

O atual chanceler, Aloysio Nunes, classifico­u Araújo como uma pessoa muito respeitada. “Os colegas o respeitam muito, fez uma carreira por seus próprios méritos. É um sujeito preparado, culto e trabalha muito eficientem­ente. Minha impressão é a melhor possível”, disse ele à Folha.

A escolha de um chanceler era vista como prioridade da semana para a equipe de transição, especialme­nte porque Bolsonaro já coleciona algumas polêmicas em temas ligados à política externa.

A mais recente se deu nesta quarta, com o cancelamen­to da parceria de Cuba no programa Mais Médicos.

Outro ponto controvers­o foi o anúncio de que transferir­ia a embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém. A promessa de campanha acabou sendo revista pelo presidente eleito. Nesta quarta, ele afirmou que isso será definido em janeiro.

Porém, a intenção de fazer o mesmo que o governo Donald Trump já trouxe impacto negativo para o Brasil. A comunidade árabe, com quem o país tem estreita relação comercial, especialme­nte na exportação de carnes, demonstrou preocupaçã­o.

A viagem de uma comitiva brasileira ao Egito foi cancelada de última hora, na semana passada, o que foi visto como retaliação às declaraçõe­s de Bolsonaro.

O presidente eleito também teve de rever declaraçõe­s sobre a China, principal parceiro comercial do Brasil. Ele vinha dizendo que os chineses queriam comprar todo o território brasileiro. Após receber o embaixador chinês, Bolsonaro afirmou que manteria os negócios, mas sem viés ideológico.

Ao longo do tempo (...) a esquerda sequestrou a causa ambiental e a perverteu até chegar ao paroxismo, nos últimos 20 anos, com a ideologia da mudança climática, o climatismo Trecho de texto publicado no blog de Araújo

Quero ajudar o Brasil e o mundo a se libertarem da ideologia globalista. Globalismo é a globalizaç­ão econômica que passou a ser pilotada pelo marxismo cultural Trecho de texto publicado no blog de Araújo

Trump propõe uma visão do Ocidente não baseada no capitalism­o e na democracia liberal,mas na recuperaçã­o do passado simbólico, da história e da cultura das nações ocidentais Trecho de artigo de Araújo em revista do Itamaraty

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O novo chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, observa o presidente eleito, Jair Bolsonaro, durante entrevista coletiva em Brasília nesta quarta (14)

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