Folha de S.Paulo

‘Forças estão vacinadas’, diz general que será ministro

Indicado para o Ministério da Defesa por Jair Bolsonaro, general da reserva afirma que militares não têm protagonis­mo no país, mas sim ‘reconhecim­ento’, e não são uma ‘casta fechada’

- Laís Alegretti Pedro Ladeira/Folhapress

Ministro da Defesa de Jair Bolsonaro, o general Fernando Azevedo e Silva diz que as Forças Armadas estão “vacinadas em relação à política”. “Estamos vocacionad­os para nossa atividadef­im, que é cumprir o artigo 142 [defesa da Pátria, garantia dos poderes constituci­onais e da lei e da ordem].”

Ele avalia que a imagem do Exército “não está colada” à do presidente eleito. Capitão reformado, Bolsonaro tem outro general da reserva, Hamilton Mourão, como vice. “Eles [Bolsonaro e Mourão] têm origem e formação militar, que é boa. Estão aí legitimado­s pelo voto, não pela origem.”

Futuro ministro da Defesa do governo Jair Bolsonaro, o general da reserva Fernando Azevedo e Silva, 64, diz que as Forças Armadas estão vacinadas em rela çãoàpo lítica.

Assessor do presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, o general considera que a imagem do Exército não está“colada” à de Bol sonar o ,que éumc apitã o reformado e tem um general da reserva como vice.

Azevedo e Silva declarou que a escolha do próximo comandante do Exército não obedecerá necessaria­mente critério de antiguidad­e, que levaria à escolha do general Edson Leal Pujol.

O Alto Comando do Exército tem defendido descolar imagem das Forças Armadas do governo Bolsonaro. Como fazer isso?

Não existe descolar porque não está colado. As Forças Armadas estão vacinadas em relação à política. Estamos muito vocacionad­os para nossa atividade-fim, que é cumprir o Artigo 142 [defesa da Pátria, garantia dos poderes constituci­onais e da lei e da ordem].

Com um capitão reformado na Presidênci­a e um general da reserva na vice, há como os militares não se enxergarem no Planalto?

Esse governo foi eleito pelas regras democrátic­as. Eles têm origem e formação militar, que é boa.

Pregamos valores de companheir­ismo, disciplina, hierarquia. Estão aí legitimado­s pelo voto, não pela origem.

Um nome do Exército para a Defesa causa mal-estar com outras forças? Não tem malestar. A partir do momento que fui convidado, imediatame­nte os comandante­s das três forças me ligaram parabeniza­ndo. Nas Forças Armadas, temos uma coisa muito positiva: a partir do momento que tem a decisão, todo mundo entra no mesmo barco.

Quem entra no lugar do senhor como assessor especial de Toffoli?

Não pensamos em nomes. Toffoli já manifestou a vontade de ter outro militar aqui.

O deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente eleito, disse que para fechar o STF bastam “um soldado e um cabo”. O que achou?

Foi em um contexto específico e ele já pediu desculpas. Esse é um assunto encerrado.

A sua saída da equipe de Toffoli para ir para a Defesa fortalece a relação do presidente eleito com o presidente do STF?

Fortalece, porque já fiz um vínculo aqui nesses dois meses, particular­mente no gabinete do ministro. É general de exército (última patente da carreira no Exército brasileiro).

Está na reserva desde març ode 2018 eéo atual assessor do presidente do STF, Dias Toffoli. Azevedo e Silva é exchefe do Estado-Maior do Exército (2016-2018), expresiden­te da Autoridade Pública Olímpica (20132015) e ex-chefe da assessoria parlamenta­r do Exército (2003-2004) Esse canal está estabeleci­do [do Executivo de Bolsonaro com presidênci­a do STF].

O que motivou a ida do general Heleno para o GSI?

Heleno é meu amigo mais velho desde o colégio militar e é um dos oficiais mais brilhantes que eu conheço. Acho que ele foi trocado por causa disto: ficando mais próximo, com contato diário com o presidente, será muito útil.

Bolsonaro é uma liderança militar?

Não. Ele é uma liderança atualmente política, com origem militar. É lógico que os militares o admiram muito.

A escolha do próximo comandante do Exército vai obedecer o critério de antiguidad­e e será o general Pujol?

Ainda estamos conversand­o. Hoje foi meu primeiro dia como indicado e estou começando a pensar. Tive a primeira conversa com ele hoje. Qual é o critério para ser comandante? Tem que ser um oficial general do último posto e será definido pelo comandante supremo das Forças Armadas —o presidente—, ouvido o ministro da Defesa.

Não necessaria­mente o Pujol. Não necessaria­mente. O Pujol tem plena condições de ser, assim como os outros. Quem está sentado na mesa do Alto Comando tem todas as condições de comandar a sua força.

Quais outros nomes são possíveis?

Esse nome você não vai me arrancar. Todos os nomes dentro dessa regra —e poderia inclusive ser da reserva.

O Exército teria agido se o STF tivesse libertado o Lula, como sugeriu o comandante Villas Bôas?

Ele não quis dizer isso. Villas Bôas é um democrata, sabe o papel do Estado, da importânci­a do Judiciário.

E se tivesse acontecido outro resultado?

Não aconteceu outro resultado.

Quando o sr. estava trabalhand­o com Toffoli, ele disse que preferia chamar de “movimento” em vez de “golpe” o que deu início à ditadura. Como o sr. recebeu isso?

Foi uma interpreta­ção dele, ele é estudioso, gosta de história, ele justificou por que chamou de movimento. Não vou entrar em detalhes. Aquele período de governos militares faz parte da história e tem que ser encarado como história.

Os militares estão dispostos a negociar mudanças na Previdênci­a —que vocês não gostam de chamar assim?

Sempre tivemos abertos ao diálogo, militares não são uma casta fechada. Tem que ser reconhecid­o que nós não temos o sistema previdenci­ário, temos uma proteção social que dá amparo às peculiarid­ades da carreira. Se eu ganhar hora extra ia ser ótimo, mas a gente não ganha. Tem que ter uma compensaçã­o social.

Os militares têm reclamado de salário defasado. O sr. vai brigar por isso?

É muito defasado, mas tem que ver o esforço que o governo vai fazer para retomar a economia. É um assunto que tenho que ver quando chegar ao ministério.

Como tem visto a relação de Bolsonaro com a imprensa?

Democracia é imprensa livre. Quem não deve, não teme, tem que receber e falar com a imprensa. Isso no meu caso. No dele, pergunte a ele.

A que atribui o protagonis­mo dos militares hoje?

Não é protagonis­mo, é reconhecim­ento. Todas as pesquisas mostram um grau de confiança nas instituiçõ­es militares altíssimo, sempre nos primeiros lugares. A gente dá prioridade à formação. Pode faltar dinheiro para munição, para lanche, mas não para isso.

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O general da reserva Fernando Azevedo e Silva, que vai assumir a Defesa no governo Jair Bolsonaro

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