Folha de S.Paulo

Ex-chefão da F-1, Bernie Ecclestone elogia Bolsonaro e o compara a Putin

Dirigente diz querer investir no Brasil e afirma que novo presidente pode ‘fazer acontecer’

- Gisele Vitória

A salinha de Bernie Ecclestone, 88, no autódromo de Interlagos, durante o GP Brasil de F-1 não tem mais o seu nome na porta. Também foi reduzida no tamanho. Mas a placa na porta era clara e simbólica. Permanece a sala “número 1”. Para encontrá-lo no domingo (11) em Interlagos, bastava ir até lá, no final do corredor dos boxes.

Após a Liberty Media assumir o controle da maior categoria do automobili­smo mundial, Ecclestone foi substituíd­o como chefão da F-1 pelo americano Chase Carey, 64, mas o histórico CEO britânico ainda é reverencia­do no mundo do automobili­smo.

Defensor do presidente russo Vladmir Putin e apoiador do “Brexit”, Ecclestone falou à Folha sobre sua percepção quanto à onda conservado­ra que atingiu o Brasil nas eleições, elogiou o presidente eleito Jair Bolsonaro —no qual vê semelhança­s ao estilo de Putin— e mostrou esperança quanto ao futuro do país.

“Eu quero investir mais no Brasil. Eu quero ver se há algumas companhias brasileira­s para vender”, afirmou o britânico, casado com a advogada brasileira Fabiana Ecclestone e dono de uma fazenda de café em Amparo (SP), onde descansa duas vezes por ano.

No ano passado, Ecclestone chegou a ser apontado pelo ex-prefeito e governador eleito de São Paulo João Doria como um dos possíveis interessad­os em participar do leilão de privatizaç­ão do autódromo de Interlagos. O dirigente, porém, desconvers­a sobre que tipo de investimen­to poderia fazer no país.

“Não tenho nenhuma novidade. E se tivesse não diria a você e nem a ninguém, mas estou bastante ocupado”, disse.

O senhor disse no ano passado que a F-1 era um restaurant­e estrelado que virou um fastfood desde que a Liberty Media assumiu o controle da categoria. Como o senhor avalia a F-1 agora?

É o que você está vendo. É a mesma coisa. Eles estão tentando encontrar o melhor caminho. Só que fazem as coisas de uma maneira diferente, mas talvez funcione. As coisas funcionam na América de uma maneira que não funcionam em nenhum outro lugar do mundo.

Há futuro para o GP Brasil?

Nós não sabemos. Não tenho ideia. Depende das perspectiv­as comerciais [na renovação do contrato em 2020].

Desde 1970, esta é a primeira temporada em que não há pilotos brasileiro­s na F-1... Eu não sei o que vai acontecer. Nós precisamos encontrá-los.

Há novas promessas como SérgioSett­eCâmara... Vamos ver. Os nomes ainda não são nada, mas temos que esperar.

O Brasil teve tantos grandes pilotos de F-1. O que aconteceu?

Os pilotos brasileiro­s costumavam ter mais suporte e apoio. A falta de suporte é o problema hoje.

Lewis Hamilton será o melhor piloto da história?

Ainda não é. Nós temos que esperar e ver. Ele é o número 1 do momento, mas não é o melhor que já existiu. Já houve muitos outros bons pilotos.

O que falta para ele ser o melhor?

Ele precisa fazer melhor do que Senna. Senna é uma boa marca para perseguir. Ele foi o melhor.

O senhor arrematou em um leilão a McLaren com a qual Senna venceu o GP de Mônaco de 1993. Por que a comprou?

Sim. Eu comprei para dar para Sebastian Vettel. Ele me pediu para comprar. O Vettel agora é o dono do carro.

O Brasil acaba de eleger um novo presidente. Como o sr. avalia Jair Bolsonaro?

Acredito que ele fará o que é necessário. Ele trará o Brasil de volta ao mapa. O Brasil é um grande país. Todo mundo acha que o Brasil tem um bom futuro, mas o futuro não vem. Talvez ele consiga fazer este futuro acontecer mais cedo. É certo que ele vai precisar fazer o que é necessário.

O que exatamente o senhor considera necessário fazer?

Ele tem ideias e não tem como voltar atrás. Acho que ele vai fazer o que é necessário fazer.

O senhor já disse que o Brasil precisa de alguém como Vladimir

Putin. Bolsonaro seria o Putin que o Brasil precisa?

Exatamente, o Brasil precisa de um Putin. Nós precisamos esperar para ver.

O Brasil se mantém polarizado. A maioria elegeu Bolsonaro, mas boa a metade da população expressa medo e preocupaçã­o. Na América aconteceu a mesma coisa. Bolsonaro não tem que ser influencia­do por esse medo. Ele tem que gerir o país. E ele tem que fazer o que ele pensa. É por isso que o Putin é tão bom. Ele toma as decisões e as realiza. Bolsonaro pode trazer isso para o Brasil e fazer acontecer.

Qual é a sua impressão sobre o ódio anti-PT e anti-Lula que Bernie Ecclestone, 88 Bernard Charles Ecclestone nasceu em Suffolk, no Reino Unido. Trabalhou na F-1 por mais de 40 anos. Inicialmen­te, como dono e chefe de equipe da Brabham, nos anos 1970. Desde que ajudou a criar a Foca (Associação dos Construtor­es de F-1), em 1974, se tornou cada vez mais participat­ivo na área política da categoria até se tornar sócio e CEO da F-1 em meados dos anos 1980

fortaleceu o voto em Bolsonaro?

Eu não acho que as pessoas no Brasil odeiam o Lula. Acho que as pessoas sabem que ele fez coisas boas. De forma geral, o que ele fez foi bom para muitas pessoas.

Como o senhor avalia a onda conservado­ra no país?

Isso é bom. É importante fazer com que a população entenda: eles são brasileiro­s e o Brasil é deles. Eles têm de trabalhar pelo Brasil e não só para eles mesmos. Os brasileiro­s têm que trabalhar para que o país se torne maior. Se isso acontecer, todos se beneficiar­ão.

O senhor já disse que, no exterior, o Brasil não é levado à sério. Isso se mantém?

Não é que as pessoas não considerem o Brasil sério. Essa sensação pode existir, mas não é que seja de verdade. O Brasil pode ter o respeito do resto do mundo. O problema é que as pessoas no Brasil não se juntam para trabalhar pelo país. No México, as pessoas estão fazendo isso. Essa impressão pode mudar. Bolsonaro precisa ter o povo acreditand­o nele, acreditand­o no que ele pode fazer.

O senhor o conhece?

Não.

Nunca o encontrei.

O que o senhor sabe sobre as ideias dele?

Eu acho que ele é uma pessoa forte e vai fazer o que acha que é certo.

E sobre as declaraçõe­s polêmicas sobre gays e sobre mulheres?

Acho que ele teve experiênci­as ruins com o que ele viu acontecer com pessoas gays. Acho que, nesse caso, ele não deve ficar preocupado. Não há o que se preocupar. Os brasileiro­s não devem ter medo.

O senhor acredita que uma onda homofóbica e machista possa crescer no Brasil?

As pessoas no Brasil estão sempre procurando reclamar de alguma coisa. Os grupos minoritári­os estão sempre com problemas. Isso aos poucos vai ser esquecido. Na minha percepção, as mulheres, gradualmen­te, estão assumindo cargos de confiança. É importante fazer com que essas pessoas o apoiem para que Bolsonaro possa fazer as coisas.

Como o senhor avalia o futuro do país?

Eu quero investir mais no Brasil. Eu quero ver se há algumas companhias brasileira­s para vender.

O senhor pretende viver no Brasil?

Quero passar mais tempo aqui.

Algum novo negócio a ser anunciado?

Eu não tenho nenhuma novidade. E se tivesse não diria a você e nem a ninguém, mas estou bastante ocupado.

“Bolsonaro não tem que ser influencia­do por esse medo. Ele tem que gerir o país. E ele tem que fazer o que ele pensa. É por isso que o Putin é tão bom. Ele toma as decisões e as realiza. Bolsonaro pode trazer isso para o Brasil e fazer acontecer

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Gisele Vitória/Folhapress Bernie Eccleston em sua sala durante o GP Brasil de F-1

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