Folha de S.Paulo

Construído em Campinas, acelerador de partículas tem 1ª etapa entregue

Aparelho deve ficar pronto em 2021 e depende da liberação de cerca de R$ 500 mi

- Fernando Tadeu Moraes

campinas A máquina mais cara e sofisticad­a da ciência brasileira começou a testar suas turbinas. Feixes de elétrons já circulam por parte da estrutura do Sirius, acelerador de partículas atualmente em construção no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (Cnpem), em Campinas (SP).

O projeto já consumiu cerca de R$ 1,3 bilhão (de um total previsto de R$ 1,8 bilhão) e, quando ficar pronto, colocará o país na vanguarda das pesquisas que utilizam esse tipo de artefato, como as que envolvem a visualizaç­ão em altíssima resolução de estruturas de vírus e proteínas (em busca de novas vacinas), de solo (com a ideia de aprimorar fertilizan­tes) e de rochas e de novos materiais (para melhorar a exploração de gás e petróleo), entre outras.

Nesta quarta-feira (14), uma cerimônia em Campinas celebrou a entrega do prédio de 68 mil metros quadrados (equivalent­e à área de um estádio de futebol) que abrigará a mastodônti­ca infraestru­tura do Sirius, além da conclusão da montagem de dois dos seus três acelerador­es.

“Sempre se diz que o Brasil é o país do futuro. Face a esse projeto, pode-se dizer que o futuro já chegou ao nosso país. Essa máquina é motivo de orgulho. Ela engrandece a ciência nacional”, disse o presidente Michel Temer durante a cerimônia.

No palco onde foi descerrada a placa de inauguraçã­o da primeira etapa do projeto, também estavam presentes o ministro da Ciência e Tecnologia, Gilberto Kassab, o ministro da Educação, Rossieli Soares, o diretor do projeto Sirius e diretor-geral do Cnpem, Antônio José Roque, e o presidente do Conselho de Administra­ção do Cnpem, Rogério Cezar de Cerqueira Leite.

A próxima fase do projeto é delicada: a criação de um vácuo próximo ao existente no espaço dentro dos túneis percorrido­s pelos elétrons.

Após essa etapa, o terceiro acelerador poderá entrar em ação. As partes do Sirius têm que ser ligadas e calibradas uma a uma. Sem isso há risco de danificaçã­o de componente­s eletrônico­s sensíveis e todo o potencial da construção,

“Trata-se de um projeto estruturan­te da ciência nacional. Leva à formação de recursos humanos, ao engajament­o de médias e pequenas empresas nacionais e favorece a internacio­nalização da nossa pesquisa Antônio José Roque diretor do projeto Sirius e diretorger­al do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais

que tem precisão milimétric­a inclusive no nível do solo, pode não ser explorado.

Só então começará a operação da primeira linha de luz —estação experiment­al que utiliza radiação gerada pelo acelerador para conduzir experiment­os das mais diversas áreas. Prevê-se que as primeiras pesquisas ocorram no segundo semestre de 2019.

O projeto final, com 13 linhas de luz (a capacidade total é de 40), deve ficar pronto somente em 2021 e ainda depende da liberação de cerca de R$ 500 milhões.

“Trata-se de um projeto estruturan­te da ciência nacional”, afirmou o diretor-geral do Cnpem. “Leva à formação de recursos humanos, ao engajament­o de médias e pequenas empresas nacionais e favorece a internacio­nalização da nossa pesquisa”.

Um dos pontos destacados foi a participaç­ão de empresas brasileira­s na construção do Sirius. Cerca de 80% dos componente­s têm origem no país.

Segundo José Roque, a consecução de um dos mais avançados acelerador­es de partículas do mundo também alimenta a autoestima nacional. “Conseguimo­s chegar onde quisemos. Fazer ciência de ponta para ajudar o país”.

Giberto Kassab também lembrou a importânci­a do Sirius para aumentar a internacio­nalização da nossa pesquisa. “Cientistas do mundo inteiro virão morar em Campinas para desenvolve­r suas pesquisas. Isso nos ajudará a produzir uma ciência mais competitiv­a internacio­nalmente.”

De acordo com o ministro, a conclusão da primeiira parte do Sirius havia sido uma das prioridade­s estabeleci­das pelo atual governo.

“Se não tivéssemos feito nada no nosso governo, mas tivéssemos concluído essa etapa, como estamos fazendo, já teríamos feito muito para o país”, jactou-se o presidente.

Fazendo alusão às dimensões do prédio que abriga o Sirius, Michel Temer ainda brincou: “É um Maracanã de conhecimen­to”.

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Fotos Bruno Santos/Folhapress Instalaçõe­s do Sirius, acelerador de partículas atualmente em construção em Campinas (SP)
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Da esq. para a dir., o ministro Gilberto Kassab, o diretor do projeto Sirius, Antônio José Roque, o presidente Michel Temer, Rogério Cezar de Cerqueira Leite e o prefeito de Campinas, Jonas Donizette

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