Folha de S.Paulo

‘Última fronteira’ dos EUA, Alasca oferece mais que ursos e paisagem branca

‘Última fronteira’ americana é mais que paisagem branca, ursos perigosos e vida bruta

- Fernanda Ezabella

Esqueça os huskies que puxam loucamente trenós pela neve ou as perigosas caçadas de veados e ursos por florestas gélidas. Visitar “a última fronteira” dos EUA não precisa ser uma jornada selvagem típica dos programas de TV locais.

O Alasca é, de fato, pura natureza. A época mais popular para conhecê-lo é no verão, entre junho e setembro, longe das nevascas. No final da temporada, turistas somem e as agências realizam seus últimos passeios do ano. A folhagem amarela do outono toma conta das montanhas, colorindo o estado famoso pelas paisagens brancas.

A principal porta de entrada do estado é Anchorage, cidade com menos de 300 mil habitantes, metade da população do Alasca. Sem charme e sofrendo com grande quantidade de sem-teto, abriga um importante museu de arte e cultura, mas há quem prefira se mandar logo para a natureza.

Nesse caso, o Mount Baldy fica a 30 minutos de carro e oferece trilha de duas horas até seu topo, com vistas para montanhas geladas. Uma boa pedida é fazer um lanche no Snow City Café na ida e parar na volta na fábrica de cidras Double Shovel.

O sabor de Alasca raiz chega com a exploração de seus muitos glaciares. Estão por todas as partes, cobrindo topos de montanhas para quem pega a estrada ao sul e vai explorar a península do Kenai.

A primeira parada é Whittier, “a cidade mais estranha dos EUA”. Só é possível chegar via um túnel de mão única e pelo qual também passa a linha de trem. No final de setembro, parece um lugar fantasma. No mercadinho local, um museu simplório exibe fotografia­s e histórias dos devastador­es terremoto e tsunami de 1964.

A razão de Whittier são os barcos que levam aos glaciares. Os fiordes não impression­am, ainda mais quando o tempo resolve fechar a cara, mas as paisagens finais fazem a viagem de quatro horas valer a pena: gigantesca­s geleiras se debruçam por montanhas negras, com icebergs flutuando ao redor.

A imagem é tão exótica que bate uma febre por mais.

Logo na saída do túnel de Whittier, no lago Portage, uma trilha plana de 1,5 quilômetro leva à geleira Byron, que descansa no pé de um monte, a poucos metros de um rio.

Mais imponente ainda é o Exit Glacier, a menos de duas horas de carro, na cidade de veraneio Seward. Há duas opções para vê-lo de perto: uma caminhada de dois quilômetro­s ou um passeio de oito quilômetro­s até seu topo.

Pelo trajeto, marcações sinalizam o ano até onde a geleira chegava, uma retração quilométri­ca desde 1896. Certamente não estará mais aqui para as próximas gerações.

O caminho é bem sinalizado e passa por uma floresta. Mesmo com movimento de turistas no final de semana, um casal cruzou com um urso e deu meia volta.

É algo raro, embora cartazes por todo o estado do Alasca avisem sobre a possibilid­ade e o que fazer. Sair correndo não é indicado, já fazer barulho, sim. Para quem não quiser depender da sorte (ou azar) para ver ursos de perto e outros animais selvagens, a sugestão é uma visita ao Alaska Wildlife Conservati­on Center, em Girdwood.

O santuário de cerca de 80 mil hectares cuida, conserva e pesquisa a fauna local, e cada residente tem uma história. O porco-espinho Sneakers foi resgatado de uma família que o colocava para dormir com as crianças, enquanto o urso Hugo foi encontrado com centenas de espinhos em suas patas.

Há também alces, renas e bisões, além de uma águiacarec­a que perdeu uma asa.

Girdwood é uma vila simpática, casa da principal estação de esqui do Alasca, no inverno. Foi eleita uma das melhores do mundo pela National Geographic, que elogiou sua localizaçã­o incomum, ausência de multidões e aversão ao glamour.

Para encerrar a viagem no melhor espírito oposto ao de “Pesca Mortal”, programa de televisão sobre barcos pesqueiros e altas tempestade­s no mar de Bering, uma pedida é embarcar num bote pelo rio Kenai, saindo de Cooper Landing. No verão, pescadores se aglomeram em busca de salmões.

O passeio é suave e quase meditativo, pontuado por águias-carecas que sobrevoam o rio e lontras que tomam sol de barriga para cima nas águas verde-acinzentad­as, obra das geleiras da região.

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Dean Goodman/Folhapress Cadela Sydney, em uma barraca na propriedad­e da família Kilcher, do reality “Alasca: A Última Fronteira”, em Homer
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Fotos Dean Goodman/Folhapress Rio Kenai, o mais longo na península de mesmo nome, no centro-sul do estado do Alasca

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