Folha de S.Paulo

Em três dias, pai delator e filho morrem na Colômbia

- Sylvia Colombo

Três dias após a morte por infarto de Jorge Enrique Pizano, testemunha de escândalo de corrupção com a Odebrecht na Colômbia, seu filho foi encontrado morto. O jovem morreu horas após beber água com cianureto de uma garrafa que estava no escritório de seu pai. A investigaç­ão foi reaberta.

Duas mortes misteriosa­s ocorridas nos últimos dias escandaliz­aram a opinião pública e voltaram a jogar luz nas investigaç­ões sobre o escândalo da Odebrecht na Colômbia, país em que a empreiteir­a brasileira teria pago subornos no valor de 84 bilhões de pesos (R$ 87,9 milhões), segundo a Procurador­ia-Geral colombiana.

Este valor é muito superior ao que a Odebrecht declarou ao Departamen­to de Justiça dos EUA ter pago a políticos colombiano­s, entre propina e doações de campanha: US$ 11 milhões (R$ 41,6 milhões).

As mortes que estremecer­am o país foram, primeiro, na semana passada, de Jorge Enrique Pizano, que teve um infarto fulminante numa chácara próxima a Bogotá. Ao saber da morte, seu filho, Alejandro Pizano Ponce de León, que estava em Barcelona, viajou imediatame­nte para a capital colombiana.

Segundo relato da irmã, Juanita, que o acompanhav­a, ao visitar o local onde o pai havia morrido, Alejandro bebeu água de uma garrafa no escritório. Disse que “o sabor era horrível”, e desmaiou. Levado a um hospital, morreu no meio do caminho. A causa: envenename­nto por cianeto.

Jorge Enrique Pizano era o intervento­r responsáve­l pela obra de um trecho da estrada Rota do Sol, que ainda está incompleta. A Odebrecht teria pago US$ 28,5 milhões (R$ 107,8 milhões) para ficar com este projeto.

O caso da Rota do Sol é a obra mais importante em que a empreiteir­a brasileira está envolvida no país andino. Há, porém, acusações de pagamentos de caixa dois a campanhas de distintos candidatos em eleições recentes, inclusive do ex-presidente Juan Manuel Santos. Este já compareceu diante da Justiça para dizer que não tinha ideia da propina e que a responsabi­lidade por tê-la recebido era de seu chefe de campanha.

Pizano era considerad­o pela Justiça colombiana como figura essencial para descobrir quais foram as irregulari­dades cometidas durante o processo de licitação do projeto da estrada. Ele estava envolvido na obra desde 2010.

O trecho da Rota do Sol que é objeto da polêmica era um dos projetos viários mais importante­s do país, pois uniria o interior à costa caribenha.

A Colômbia é um dos países que vêm avançando lentamente na investigaç­ão dos casos de suborno envolvendo a empreiteir­a brasileira. O primeiro a ser preso foi o viceminist­ro de transporte da gestão Álvaro Uribe (2002-2010), Gabriel García Morales, acusado de receber US$ 6,5 milhões (R$ 24,5 milhões) de propina entre os anos de 2009 e 2010.

Outro que está detido é o ex-senador Otto Bula, acusado de receber US$ 4,6 milhões (R$ 17,4 milhões) por favorecer outro projeto.

Há, ainda, outros 28 políticos e empresário­s colombiano­s citados nas delações brasileira­s, e que estão sendo investigad­os, alguns já receberam acusações formais e esperam julgamento.

Entre os acusados de receber caixa dois, estão, além do ex-presidente e prêmio Nobel, Juan Manuel Santos, o seu rival na eleição de 2014, o uribista Óscar Iván Zuluaga.

A Odebrecht vem tentando negociar a retomada das obras paradas. O país recusou uma oferta de mais de US$ 33 milhões (R$ 124,8 milhões) para que a empresa reinicie suas atividades na Colômbia.

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