Folha de S.Paulo

Depois das fake news

- Mariliz Pereira Jorge

“Single use” foi eleita a palavra do ano pelo dicionário “Collins”. Talvez não tenha de imediato a repercussã­o da escolha de 2017, que apenas carimbou em “fake news” o selo acadêmico, depois de ter sido catapultad­a ao estrelato por Donald Trump. Das eleições americanas para o mundo.

Assim como a Collins, outras empresas rastreiam a constante transforma­ção que a língua inglesa enfrenta ao refletir como a sociedade passa a se comunicar. Ainda em 2017, “feminismo” foi o grande destaque da editora Merriam-Webster, o que reforçou a importânci­a da nova onda do movimento no século 21. De fato, é uma palavra que não saiu mais do vocabulári­o, inclusive de quem não gosta de feministas.

O uso do termo “single use” vem crescendo desde 2013 e faz referência a produtos de plástico descartáve­is, em geral usados uma única vez, que ganharam status de inimigos da natureza. As discussões sobre o assunto ainda são incipiente­s por aqui, restritas a pessoas com poder aquisitivo alto, praticante­s de ioga e ecochatos, gente por quem eu tenho cada vez mais simpatia.

Um relatório da ONU mostra que 60% a 80% de todo o lixo que vai parar no mar é plástico e que até 2050 poderá haver mais dele nos oceanos do que peixes. Poucas iniciativa­s têm sido tomadas para diminuir seu uso. Uma delas foi a proibição de canudos desse material em bares e restaurant­es, pela Prefeitura do Rio. A medida enfrenta críticas, para muitos é enxugar gelo. Mas a escolha de “single use” pela Collins mostra que pode ser só o começo de uma grande mudança nos costumes.

O que me lembra uma antológica entrevista de Paulo Maluf, então prefeito de São Paulo, no Roda Viva, em 1995. Maluf enfrentou jornalista­s e telespecta­dores furiosos por causa da proibição do cigarro em restaurant­es e da obrigatori­edade do uso de cinto de segurança. Vinte anos depois alguém teria coragem de se opor a essas mudanças?

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