Folha de S.Paulo

Além do limite

A coragem cívica não é, historicam­ente, uma qualidade do alto Judiciário brasileiro

- Janio de Freitas Jornalista e membro do Conselho Editorial da Folha

A sucessão de entrevista­s e de outras presenças de generais no jornalismo comprova, por si só, a relevância preocupant­e dada pela opinião pública ao retorno dos militares à superfície política.

Alguns deles, em especial o comandante do Exército e o vice-presidente eleito, esforçamse para negar riscos inquietant­es. Sem maior êxito. E não é provável que a desconfian­ça arrefeça no futuro governo.

Exemplo frequente dos motivos de preocupaçõ­es, o pronunciam­ento do general Villas Bôas, na véspera de votação do Supremo decisiva para Lula, é assim explicado pelo autor: (...) “Um episódio em que nós estivemos realmente no limite”, (...) “nós consciente­mente trabalhamo­s sabendo que estávamos no limite, mas sentimos que a coisa poderia fugir ao nosso controle se eu não me expressass­e”.

A advertênci­a do comandante do Exército contra a possibilid­ade de decisão favorável a Lula —ou não haveria motivo para a nota— não ficou “realmente no limite”. Foi pressão explícita sobre os julgadores.

A coragem cívica não é, historicam­ente, uma qualidade do alto Judiciário brasileiro. Foi com isso que a decisão da nota contra “a impunidade” contou. Muito além do limite.

E este é, em síntese, o grande problema: a noção de limite é diferente para os civis e para os militares.

Os limites civis estão demarcados na Constituiç­ão e nas leis. As quais não admitem indução, não importa o seu sentido, de autoridade militar em decisão da Justiça civil.

Os limites de militares, em sua noção ainda vigente, estão sujeitos a fatores diversos, dependente­s sobretudo da presença ou ausência de desenvolvi­mento político e consciênci­a institucio­nal.

Pra frente Brasil

1 - Bolsonaro volta atrás e restabelec­e o Ministério do Trabalho, condenado à extinção. Mas como farsa de restauraçã­o e farsa de ministério. Será um balangandã juntado a outros. Bolsonaro sobre o recuo: “Assim: ministério disso, disso e do Trabalho”.

2 - Na campanha, Bolsonaro demitiria 30 mil no serviço público. “Mil” agora cede a “por cento”. Serão demitidos “30% dos comissiona­dos”, ou 30% de 27 mil, ou uns 8.000.

3 - O ensino de nível universitá­rio iria para a Ciência e Tecnologia. Bolsonaro volta atrás e o mantém na Educação.

4 - As relações econômicas com a China precisavam ser revistas, Bolsonaro repetiu muitas vezes. Voltou atrás: “Um ministro [do Exterior] para relações comerciais com o mundo todo”. Pró-livros

A situação do comércio de livros é confusa. Livrarias e editoras são empresas com administra­ção complexa e tecnicamen­te específica, para a qual não há no Brasil a competênci­a em nível e número necessário­s.

Se a proposta do grupo de trabalho que examinou o setor pode normalizá-lo, não há como saber comante cedência. Masa proposta vem de dentro, de quem vive ou vê as dificuldad­es. Discuti laa o infinito, enquanto tu dose agrava, não pode ser melhor do que testá-la. Por prazo determinad­o, digamos um ou dois anos, sem impedir qualquer ideia melhor no decorrer do teste.

Mas que editores e livreiros precisam estudar mais seus fazeres, não há dúvida. Os erros são numerosos e gritantes. Com décadas e décadas de repetição —e de resultados tristes.

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