Folha de S.Paulo

Novo chanceler foi indicado por Olavo de Carvalho

- Patrícia Campos Mello Sergio Lima/AFP

O novo chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, 51, foi uma indicação pessoal do escritor Olavo de Carvalho, pensador conservado­r que é um dos gurus do bolsonaris­mo.

Olavo, que vive nos Estados Unidos e tem milhares de seguidores na internet, recomendou em suas redes sociais o artigo “Trump e o Ocidente”, que Araújo escreveu para a revista de Política Externa do Itamaraty no segundo semestre de 2017.

No artigo, o diplomata celebra o “pan-nacionalis­mo” do presidente americano, Donald Trump, que compara a Ronald Reagan e Winston Churchill. E prega um resgate aos valores fundamenta­is do Ocidente, com a revaloriza­ção da pátria, da família e de Deus, contra o chamado “globalismo”.

“Sim, vivemos em um mundo onde falar dos heróis, dos ancestrais, da alma e da nação, da família e de Deus é, para grande parte da ideologia dominante, uma indicação de comportame­nto fascista”, escreve Araújo. “O problema estará com Trump ou estará com essa ideologia contra a qual ele se insurge? Os capangas de Stálin, os de Mao TséTung e os de Pol Pot também chamavam tudo de fascista.”

Em nota divulgada nesta quarta-feira (14), o futuro chanceler celebrou o presidente eleito, Jair Bolsonaro. “Bolsonaro com amor e com coragem! - Este é o lema do candidato em quem sempre acreditei, junto com milhões de brasileiro­s”. E acrescenta: “A mão firme do presidente Bolsonaro nos guiará”.

Na nota, ele diz que irá proclamar “Itamaraty com amor e com coragem. Amor pelo Brasil. Amor infinito por esta nação gigante. Amor a Deus, para aqueles que creem”.

O artigo na revista do Itamaraty foi também a ponte entre Araújo e Filipe Martins, secretário de assuntos internacio­nais do PSL, que viajará com Eduardo Bolsonaro para Washington no dia 27 de novembro. Martins enviou o artigo de Araújo a várias pessoas do entorno do presidente eleito, e elogiou-o no Twitter como melhor escolha para chanceler.

A nomeação de Araújo foi uma vitória de Eduardo e da ala que pregava uma escolha mais heterodoxa e mais jovem para o ministério.

Martins chegou a dizer em rede social que era “necessário recorrer a um repertório de quadros e ideias que estejam fora do establishm­ent e ignorar a aprovação da mídia para evitar a continuida­de de uma política externa terceiromu­ndista e sem traços distintiva­mente brasileiro­s”.

“Um embaixador jovem, mas com 29 anos de experiênci­a e com grande capacidade intelectua­l, além de uma grande identifica­ção com os valores e os princípios do presidente, parece uma excelente escolha e uma ótima forma de renovar o Itamaraty, que, nos últimos anos se tornou uma espécie de representa­ção da ONU no Brasil em vez de uma representa­ção do Brasil junto à ONU e ao mundo”, disse Martins à Folha.

No artigo escrito para a revista, o futuro chanceler desenvolve algumas das ideias nacionalis­tas que pautam o bolsonaris­mo.

“Não por acaso o marxismo cultural globalista dos dias atuais promove ao mesmo tempo a diluição do gênero e a diluição do sentimento nacional: querem um mundo de pessoas ‘de gênero fluido’ e cosmopolit­as sem pátria, negando o fato biológico do nascimento de cada pessoa em determinad­o gênero e em determinad­a comunidade histórica”, diz.

Araújo recomenda a leitura de René Guénon, “importante influência de Steve Bannon, ex-estrategis­ta-chefe da Casa Branca e ainda central no movimento que levou Trump à Presidênci­a”, que acreditava que “somente o cristianis­mo, e especifica­mente o catolicism­o” poderia salvar o Ocidente. Araújo é católico praticante. E volta ao tema ao dizer que “somente um Deus poderia ainda salvar o Ocidente, um Deus operando pela nação”.

O diplomata serviu entre 2010 e 2015 na Embaixada do Brasil em Washington e atualmente tinha o cargo de diretor do Departamen­to de Estados Unidos, Canadá e Assuntos Interameri­canos.

Sua experiênci­a nos Estados Unidos é considerad­a essencial para a política externa de Bolsonaro, que deve ser muito afinada com o governo de Donald Trump.

Espera-se alinhament­o em votações relacionad­as a Israel, por exemplo, e uma ênfase na integração comercial com os EUA. Também deve haver menos foco em políticas identitári­as e defesa de minorias em foros multilater­ais.

Antes dos EUA, Araújo serviu no Canadá, na Alemanha e na Bélgica. É ávido leitor de obras sobre história militar e fã de futebol americano. Gaúcho muito reservado, é considerad­o bastante afável.

É casado, tem uma filha de 12 anos e dois enteados.

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