Folha de S.Paulo

Trump apoia reforma ambiciosa de sentenças prisionais nos EUA

Projeto tem apoio de republican­os e democratas para reduzir penas ligadas ao tráfico de drogas

- Paula Leite

O presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou nesta quarta-feira (14) que vai apoiar um projeto de lei em análise no Senado americano que faria a mais ambiciosa reforma no sistema de justiça criminal no país nas últimas décadas.

O projeto de lei, que tem apoio de congressis­tas dos partidos Republican­o e Democrata, reduziria sentenças mínimas obrigatóri­as, principalm­ente para crimes relacionad­os ao tráfico de drogas, e disponibil­izaria mais recursos para programas para evitar a reincidênc­ia.

Os EUA têm a maior população prisional do mundo, com 2,2 milhões de pessoas atrás das grades, e também a mais alta taxa de encarceram­ento —655 prisioneir­os por 100 mil habitantes, quase o dobro da brasileira, de 324 presos por 100 mil habitantes.

Muitas das leis que agora se propõe alterar são dos anos 1980 e 1990, décadas em que o uso de crack e de cocaína cresceu no país.

O principal efeito do endurecime­nto das penas durante o período foi o aumento do número de presos no país, em especial negros e hispânicos.

Em 1980, eram cerca de 41 mil pessoas cumprindo penas por crimes relacionad­os a drogas no país; em 2015, o número era de quase 470 mil. Os negros são cerca de 12% da população americana, mas representa­m cerca de um terço dos encarcerad­os.

Ao anunciar seu apoio à medida, Trump disse que queria mudar a “lei criminal de Bill Clinton”, que tinha um efeito “desproporc­ional e muito injusto” sobre os negros.

As principais mudanças propostas são a redução de sentenças mínimas obrigatóri­as para crimes relacionad­os a drogas; alteração da lei que prevê prisão perpétua obrigatóri­a para quem comete crimes sérios por três vezes; e o fim da aplicação automática de uma regra que torna crime federal portar arma ao cometer outros crimes.

A proposta tem apoio de grupos mais à esquerda e mais à direita no espectro político americano, como os irmãos Charles e David Koch, por exemplo, bilionário­s conservado­res, e a ACLU, associação de liberdades civis identifica­da com a esquerda. Na semana passada, a Ordem Fraternal da Polícia, a maior organizaçã­o de policiais do país, disse que também aprova a reforma, um apoio de peso.

Republican­os moderados veem uma oportunida­de de reduzir gastos governamen­tais reduzindo o número de prisioneir­os, que custam caro. Já a esquerda vê avanços em termos de justiça social e racial nas mudanças propostas.

A saída do linha-dura Jeff Sessions, secretário de Justiça do governo Trump demiti- do na última quarta (7), também pode ter contribuíd­o. Seu substituto, Matthew Whitaker, tem sinalizado que está aberto às mudanças.

A discussão também foi objeto da visita da empresária e apresentad­ora Kim Kardashian West à Casa Branca, em maio deste ano —ela foi pedir ao presidente, justamente, perdão para uma mulher que cumpre prisão perpétua por crimes relacionad­os ao tráfico de drogas.

Em outubro, o marido de Kardashian West, o rapper Kanye West, também foi à Casa Branca e almoçou com Trump, numa reunião em que também discutiram a questão prisional.

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Andrew Harnik/Associated Press O presidente Trump anuncia na Casa Branca seu apoio ao projeto de reforma de sentenças

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