Folha de S.Paulo

Temer não garante reajuste de 16,4% ao STF

Em reunião com Toffoli e Fux, presidente tem posição diferente da adotada em agosto, quando assegurava o aumento

- Reynaldo Turollo Jr. e Gustavo Uribe Com Reuters

O presidente Michel Temer não se compromete­u nesta quarta-feira (14) a sancionar a proposta que concede um aumento de 16,38% aos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).

O emedebista está sob pressão para vetar o reajuste salarial. A correção para os ministros terá efeito cascata em outras carreiras públicas, uma vez que o vencimento do STF é o teto constituci­onal.

A posição, diferentem­ente da adotada por Temer em agosto, foi manifestad­a em encontro, no Palácio do Jaburu, com os ministros Dias Toffoli e Luiz Fux, do Supremo, e Gustavo Rocha, dos Direitos Humanos.

O encontro foi marcado para que os magistrado­s apresentas­sem ao presidente os dados que mostram que o aumento não causará impactos nos gastos do Poder Judiciário federal.

Segundo eles, os tribunais superiores e os regionais federais já remanejara­m recursos para fazer frente ao reajuste.

Com a atitude do presidente, os ministros da corte tiveram a impressão, de acordo com relatos, de que surtiram algum efeito as pressões para que ele vete a proposta.

Nos últimos dias, além do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), setores da opinião pública e parcela dos governador­es eleitos têm defendido que ele não conceda o aumento.

Em agosto, Temer havia se mostrado disposto a sancionar a medida em acordo firmado com Toffoli.

Pelo trato, ele daria respaldo ao aumento em troca da extinção do auxílio-moradia, de R$ 4.377, hoje pago indiscrimi­nadamente a todos os juízes e membros do Ministério Público.

Em conversas reservadas, Temer vinha confirmand­o a sanção, mas dizia que a faria perto do fim do prazo constituci­onal de 15 dias úteis, ou seja, até 28 de novembro.

O objetivo de segurar ao limite, segundo assessores presidenci­ais, era tentar arrefecer a repercussã­o negativa em torno do aumento.

A mudança, no entendimen­to dos magistrado­s, deve-se à divulgação de informaçõe­s equivocada­s de que o reajuste aumentará o rombo nas contas públicas.

Na avaliação do STF, os dispêndios nos estados, por causa do efeito cascata, não devem ser creditados na conta do Judiciário federal.

Segundo cálculos das consultori­as de Orçamento da Câmara e do Senado, o impacto anual será de R$ 4 bilhões.

No final da conversa, Temer disse que vai procurar o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, para discutir novamente o assunto.

Não há como Temer delegar o assunto para Bolsonaro. Decorrido o prazo, se o presidente não se manifestar, o silêncio resultará na sanção do projeto. A matéria foi aprovado pelo Senado no dia 7 de novembro.

Caso seja concedido o aumento, o salário dos ministros irá dos atuais R$ 33,7 mil para R$ 39,3 mil.

Pela manhã, em evento em Campinas (SP), Temer foi questionad­o sobre a sanção ou o veto ao aumento.

“Estou examinando, vocês sabem que eu tenho 15 dias e estou examinando esse assunto com muito cuidado, e só decidirei lá à frente, vamos ver como fazemos. Temos até o dia 28 de novembro para a sanção”, disse Temer.

Bolsonaro disse que, se já estive no Palácio do Planalto, vetaria.

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