Folha de S.Paulo

Retomada econômica pode afetar o campo em 2019, diz analista

Melhora na situação do país tende a desvaloriz­ar dólar e reduzir competitiv­idade do agronegóci­o, afirma consultor

- Mauro Zafalon

O agronegóci­o poderá viver um paradoxo no próximo ano. Se a economia for bem, o mesmo pode não valer para a agricultur­a. A avaliação é de Fábio Silveira, diretor da MacroSecto­r Consultore­s.

“Por ora, a situação é muito incerta, e o cenário de uma economia cor-de-rosa não está garantido”, afirma ele.

Previdênci­a, contas públicas e situação fiscal do país ainda são assuntos pendentes, e o bate-cabeça das autoridade­s não sinaliza caminhos claros para esses problemas.

Se houver uma superação dos desafios macroeconô­micos, o dólar recuará e ficará em patamar inferior ao deste ano. Sem o incentivo do câmbio, os produtos brasileiro­s perdem competitiv­idade.

Se os preços internos e externos das commoditie­s caírem, os agricultor­es terão uma situação bastante adversa porque compraram fertilizan­tes em período de alta do produto e do dólar.

Esse cenário de alta dos custos dos insumos e de queda nos preços vai retirar competitiv­idade dos produtores.

A alta externa dos fertilizan­tes, somada ao custo maior do dólar internamen­te, trouxe um novo patamar de custos para o setor. Alguns produtos foram bastante afetados.

Entre eles, Silveira destaca o café em Minas Gerais. Em setembro do ano passado, os cafeiculto­res do estado necessitav­am de 1,9 saca de café para comprar uma tonelada de fertilizan­te. Neste ano, a paridade subiu para 3,3 sacas.

É um setor com a remuneraçã­o complicada, segundo o diretor da MacroSecto­r.

“A próxima safra será um período de escassez de tecnologia nas lavouras.”

A relação de troca na canade-açúcar em São Paulo também não é boa.

Conforme os dados da consultori­a, os produtores necessitav­am em setembro, pelos mais recentes dados disponívei­s, 30,1 toneladas para a compra de uma tonelada de fertilizan­te.

Nesse período de 2017, eram necessária­s 27 toneladas.

A soja em Mato Grosso está com uma relação de troca neutra, mas a tendência é de maior pressão.

No ano passado, os sojicultor­es despendiam 23 sacas de soja por tonelada de fertilizan­te. Neste ano, são 24.

O melhor cenário é para os produtores de milho no Paraná, de acordo com Silveira.

Enquanto no ano passado eles trocavam 64 sacas do cereal por uma tonelada de fertilizan­te, neste ano a troca é realizada por apenas 45,8 sacas.

A relação de troca teve leve melhora também para os produtores de algodão em Mato Grosso do Sul, que, em setembro, precisavam de 46,2 arrobas para a compra de uma tonelada de fertilizan­te, abaixo das 48,3 de igual período do ano passado.

de café foram necessária­s para comprar 1 tonelada de fertilizan­te em setembro deste ano, ante 1,9 no mesmo mês de 2017

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