Folha de S.Paulo

Argentina investe no turismo LGBT para além de Buenos Aires

Do tango queer à parada do orgulho gay, que acontece neste sábado, atrações se multiplica­m

- Clara Balbi Colaborou Ana Luiza Tieghi

Os movimentos sensuais, com cadência marcada, são os mesmos. O ritmo também. O que muda no “tango queer” é a composição dos casais. Desafiando a tradição, são pares de pessoas do mesmo sexo.

A variante surgiu no final da década de 1990, em resposta à convenção de que apenas o cavalheiro pode liderar, enquanto a dama é obrigada a segui-lo, segundo Augusto Balizano, um dos fundadores do Festival Internacio­nal de Tango Queer, em Buenos Aires, cuja 12ª edição vai até domingo (18). Nessa modalidade, casais do mesmo sexo dançam juntos, prática vetada nas milongas (bailes).

O festival atrai público internacio­nal e é um dos eventos voltados ao público LGBT que ganharam relevância na Argentina nos últimos anos.

Além dele, há a Vendimia Para Todos, que acontece em Rosário, o Festival Asterisco de cinema, em Buenos Aires, o concurso nacional de Drag Queen, em Tucumán, e a célebre marcha do orgulho gay, marcada para o próximo sábado (17), também na capital.

O cresciment­o dessas atrações se deve em parte ao trabalho conjunto da Secretaria de Turismo argentina, do Inprotur, órgão de promoção do turismo no país, e da Câma- ra de Comércio Gay e Lésbico da Argentina.

Desde 2010, ano de fundação da Câmara e da regulament­ação do casamento homossexua­l no país, esses órgãos ajudam cidades de todo o território a receber melhor os viajantes desse nicho.

Também promovem o conceito de Argentina LGBT-friendly em feiras de turismo pelo mundo. A iniciativa ganhou até um programa próprio de marketing, em 2016, o Amor. “É um valor universal”, afirma Gustavo Santos, secretário de turismo argentino, sobre o nome da iniciativa.

Os esforços têm trazido resultados. Segundo a Câmara, o número de LGBTs que visitaram o país registrou um cresciment­o de 3% em 2017 —mais do que o número total de turistas na Argentina, que aumentou apenas 1% no período. A organizaçã­o estima receber cerca de 450 mil visitantes da comunidade por ano.

E não só em Buenos Aires. O presidente da Câmara, Pablo De Luca, afirma que outros destinos populares entre o público LGBT (mais de 10% dos viajantes do globo, segundo a Organizaçã­o Mundial do Turismo) são Iguazú, Salta, Ushuaia e Mendoza.

É na última, cidade no oeste argentino famosa pela produção de vinho, que acontece em março o evento Vendimia para Todos. Iniciado há quase 24 anos como uma paródia do concurso de beleza de Mendoza realizado por ocasião da colheita da uva, transformo­u-se em um mega espetáculo, com shows e a eleição do rei e da rainha da diversidad­e.

Outra cidade querida dos turistas LGBT é Rosário, às margens do rio Paraná, local do primeiro casamento gay entre estrangeir­os.

Para De Luca, ser um destino LGBT-friendly é simples: “Basta fazer com que os membros da comunidade se sintam confortáve­is, independen­temente de sua orientação sexual”.

O secretário de turismo, Gustavo Santos, concorda. “A sociedade argentina é diversa e respeita o outro”.

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Casais de mesmo sexo dançam modalidade conhecida como ‘tango queer’ em Buenos Aires
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