Folha de S.Paulo

Quem tem dinheiro no governo Bolsonaro

Militares ficam com ministério­s com dinheiro, antes negociados com o Congresso

- Vinicius Torres Freire Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administra­ção pública pela Universida­de Harvard (EUA) vinicius.torres@grupofolha.com.br

Militares devem ficar com ministério­s que controlam 60% do investimen­to federal. Assim será caso um militar também chefie um superminis­tério da Infraestru­tura, como se especula.

Tão ou mais importante, militares vão administra­r pastas com os orçamentos ao mesmo tempo mais gordos

e maleáveis, antes de grande

importânci­a na negociação

política com o Congresso.

É uma divisão de poder a se prestar atenção.

Primeiro, a se confirmar a nova composição do seu Lego Ministério, Jair Bolsonaro terá de fato fechado os canais de negociação política com o Congresso por meio de nomeações ministeria­is.

Segundo, o presidente eleito

cria um “polo de planejamen­to” sob comando militar, organizado mesmo antes da campanha eleitoral, sob a orientação dos generais Oswaldo

Ferreira e Augusto Heleno.

Note-se que também será um

polo a reivindica­r verbas orçamentár­ias ao überminist­ro da Economia, Paulo Guedes, e mudanças regulatóri­as ao Congresso. O governo Bolsonaro quer mudanças na área

ambiental e de licitações, entre outras, a fim de tocar mais obras. Reivindica­ção cria possibilid­ade de atrito.

Terceiro, o presidente parece querer mandar uma mensagem. Isto é, os ministério­s antes tratados como carniça

de corrupto estariam agora

protegidos por militares. Este jornalista ouviu a expressão “carniça de corrupto”

de um general do governo.

O Ministério da Infraestru­tura

ainda é uma incógnita, decerto. Pode ser a junção de

Transporte­s, Portos e Aviação

Civil com parte das pastas de

Cidades (habitação, saneamento, transporte urbano) e da Integração Nacional (recursos hídricos: barragens, irrigação, obras do São Francisco). Não sobraria quase nada de Cidades e Integração, pois, dois ministério­s sempre disputados por políticos. Uma fusão do que sobrar ficaria com prevenção e atenuação de desastres naturais e “desenvolvi­mento sustentado local”.

dinheiro Com teria as federal fusões, uns 38% a destinado Infraestru­tura do total do a investimen­tos etc.). O (obras, Ministério equipament­os da Defesa, em hoje investimen­to, o que mais despende tem pouco mais de 19%. Militares

vão comandar ainda Ciência e Tecnologia, Segurança Institucio­nal e os gabinetes

da Presidênci­a e vice, óbvio.

Há ministério­s com grandes

dotações orçamentár­ias, como Saúde, Educação e mesmo Trabalho. Mas muito do dinheiro dessas pastas é carimbado: tem destino definido inalteráve­l pelas leis orçamentár­ias anuais, por deter

minações constituci­onais, com gasto de pessoal etc. Ainda assim, em termos de verba, Saúde e Educação são de encher os olhos e ocupam o quarto e

o quinto lugares no ranking dos investimen­tos do governo.

Ainda pode ser que a Infraestru­tura

continue fatiada em vários ministério­s, sob controle de um articulado­r abrigado

no Planalto, com Bolsonaro. Mas é difícil.

Sendo assim, falta definir

a área dita social, em termos de grandes latifúndio­s ministeria­is, e o formato final da articulaçã­o política.

No mais, há o überminist­ro Guedes, com ambição de grande reforma econômica e conselheir­o-mor do presidente eleito (o outro é Heleno).

Há o líder anticorrup­ção, Sergio Moro, superminis­tro, mas nem tanto, da Justiça. A ministra Tereza Cristina, da Agricultur­a, terá ascendênci­a sobre o Meio Ambiente e pode absorver mais tarefas.

Os militares estão no Planalto, na Defesa, por ora na

Infraestru­tura, no comando

das parcerias com o setor privado e com as maiores verbas.

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