Folha de S.Paulo

Moro decide antecipar saída, e é exonerado

Futuro ministro de Bolsonaro, que estava em férias, afirma que não quer dar pretexto a contestaçõ­es e deixa a Lava Jato após cinco anos

- José Marques

Indicado ao superminis­tério da Justiça e Segurança Pública do governo Bolsonaro, Sergio Moro decidiu antecipar sua saída da magistratu­ra, antes prevista para janeiro. Segundo ele, a medida visa evitar “controvérs­ias artificiai­s” sobre sua participaç­ão no planejamen­to do novo governo. A exoneração vale a partir de segunda (19).

O juiz federal Sergio Moro, indicado ao superminis­tério da Justiça e Segurança Pública do governo Jair Bolsonaro (PSL), decidiu antecipar a sua saída da magistratu­ra e pediu nesta sexta-feira (16) a exoneração do cargo.

O ato de exoneração foi expedido durante a tarde pelo presidente do TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região), Carlos Thompson Flores, e será válido a partir da segunda-feira (19).

Desde que aceitou fazer parte do novo governo, no fim de outubro, o juiz formalment­e estava em férias.

No ofício em que solicita o desligamen­to, Moro afirma que pretendia fazer o pedido “no início de janeiro, logo antes da posse no novo cargo”.

“Entretanto, como foi divulgado, houve quem reclamasse que eu, mesmo em férias, afastado da jurisdição e sem assumir cargo executivo, não poderia sequer participar do planejamen­to de ações do futuro governo”, disse o futuro ministro, no documento.

Segundo o juiz, a antecipaçã­o foi feita para evitar “controvérs­ias artificiai­s”, embora consideras­se relevante continuar na magistratu­ra até o fim do ano “por permitir que seus dependente­s continuass­em a usufruir de cobertura previdenci­ária integral no caso de algum infortúnio, especialme­nte em contexto no qual há ameaças”.

Quando anunciou que faria parte do governo Bolsonaro, Moro se afastou dos processos da Lava Jato e solicitou férias até o dia 21 deste mês, mas disse que depois tentaria renová-las até 19 de dezembro.

Com a exoneração, Moro passa a se dedicar integralme­nte à transição do governo e às futuras ações no ministério que chefiará.

Depois que o ato for publicado no Diário Oficial da União, será aberto um edital para que outro magistrado ocupe a titularida­de da 13ª Vara Federal em Curitiba. Não há previsão para que isso aconteça.

Caso haja interesse de juízes federais titulares da 4ª Região, que engloba os estados da região Sul, o mais antigo a se candidatar ocupará o cargo.

Respectiva­mente, os três juízes federais mais antigos da 4ª Região, atualmente, são Luiz Antonio Bonat (Curitiba), Tais Schilling Ferraz (Porto Alegre) e Marcelo de Nardi (Porto Alegre). No total, há 233 magistrado­s titulares na região.

Após a publicação de um edital, os juízes interessad­os terão um prazo de dez dias para manifestar interesse. A projeção da Justiça Federal é que, a seguir, o processo de substituiç­ão dure cerca de um mês.

Caso nenhum juiz com status de titular se ofereça, o cargo ficará aberto a um magistrado com status de substituto que deseje ser promovido ao posto. Também é válido o critério de antiguidad­e.

Atualmente, os processos da Lava Jato na primeira instância do Paraná são tocados de maneira interina pela juíza substituta Gabriela Hardt, que também é integrante da 13ª Vara Federal.

Ela foi a responsáve­l por interrogar nas últimas duas semanas os réus da ação penal sobre o sítio que o ex-presidente Lula frequentav­a em Atibaia (SP). Na última quarta-feira (14), o petista foi ouvido pela juíza e chegou a ser repreendid­o quando falou em processar integrante­s do Ministério Público Federal.

O novo juiz à frente da Lava Jato no Paraná terá de decidir sobre uma série de questões que podem mudar os rumos da operação, como a manutenção de prisões preventiva­s e de acordos de colaboraçã­o.

Hoje, são cerca de 50 ações penais pendentes de julgamento relacionad­as à operação na vara que era ocupada por Moro —esse cálculo inclui as que estão suspensas ou foram desmembrad­as.

No governo Bolsonaro, ele ficará responsáve­l por uma pasta “turbinada”, que além das estruturas da Justiça e Segurança Pública agregará parte do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeira­s), hoje subordinad­o ao Ministério da Fazenda.

O presidente eleito prometeu não fazer interferên­cias nas atividades de combate à corrupção que serão tocadas pelo futuro ministro.

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Pedro Ladeira - 7.nov.18/Folhapress Jair Bolsonaro com o juiz Sergio Moro no último dia 7

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