Folha de S.Paulo

Livros sobre emedebista exploram relações dele pré-governo

- Italo Nogueira

CRÍTICA

Sérgio Cabral – o Homem que Queria Ser Rei ***** Hudson Corrêa, Editora Sextante, R$ 39,90 / e-book 24,99, 224 págs.

Se Não Fosse o Cabral – a Máfia que Destruiu o Rio e Assalta o País ***** Tom Cardoso, Editora Tordesilha­s, R$ 44,90, 312 págs.

O segundo aniversári­o da Operação Calicute, que prendeu o ex-governador do Rio, traz às livrarias dois livros-reportagem sobre seu alvo principal: “Sérgio Cabral – o Homem que Queria Ser Rei” (Sextante), do jornalista Hudson Corrêa, e “Se Não Fosse o Cabral – a Máfia que Destruiu o Rio e Assalta o País” (Tordesilha­s), do jornalista Tom Cardoso.

É uma história conhecida: filho de Sérgio Cabral “pai”, jornalista do “Pasquim”, Serginho —como era conhecido na adolescênc­ia— aproveitou como pôde o ambiente cultural rico de casa, frequentad­a por Cartola, Nelson Sargento e outros.

Entrou no PCB, também por influência do pai, onde deu os primeiros passos na política. Aprendeu mais a arrecadar com fitas de discursos do ditador cubano Fidel Castro do que exatamente com o conteúdo das falas.

Após anos turbulento­s na Assembleia do Rio, onde não faltaram suspeitas de corrupção e enriquecim­ento ilícito, Cabral passa uma temporada no Senado até se tornar um popular governador. Nove anos depois, é a personific­ação do político corrupto.

Os dois livros contam com detalhes informativ­os a adolescênc­ia e o início da carreira política de Cabral.

Corrêa explora melhor a passagem do então deputado pela contaminad­a Assembleia Legislativ­a do Rio, onde até votação secreta ele implemento­u para defender os interesses de empresário­s de ônibus.

Cardoso mostra de forma mais eficiente como a derrota na eleição municipal de 1996 expôs o pragmatism­o político do personagem.

Enquanto o candidato a prefeito se apresentav­a como um conservado­r contra homossexua­is e o aborto, a fim de atrair o voto religioso, dez anos depois Cabral passa a frequentar a Parada Gay.

A trajetória pré-Palácio Guanabara deixa claro, em ambas as obras, o charme e a maleabilid­ade política de Cabral.

A grande lacuna das duas obras, porém, é justamente no momento crucial do protagonis­ta.

Cardoso tem uma escrita mais agradável, o que torna a obra mais atraente e ampla. Revela, por exemplo, que o exgovernad­or pediu para receber a medalha Légion d’Honneur a um ministro francês em plena missa em homenagem às vítimas do acidente da Air France, em 2009.

É, contudo, o mesmo texto que afirma que o filho do ex-governador, Marco Antônio Cabral, retirou o sobrenome nesta eleição para fugir da associação com o pai —fake news já desmentida.

O texto de Corrêa é menos convidativ­o. Os relatos de depoimento­s de delatores à Justiça ganham ambientaçã­o com fórmulas simples como “numa tarde abafada”.

Nos dois livros, porém, o relato sobre o governo Cabral é quase uma adaptação literária das denúncias do Ministério Público Federal salpicado com contextos colhidos em jornais na qual Cardoso é mais eficiente.

É um desafio biografar um personagem ainda alvo de intensas investigaç­ões. A desatualiz­ação é iminente.

Contudo ambas falham ao deixar de lado as rede de relações não criminosas do exgovernad­or do Rio de Janeiro que fizeram com que uma conhecida raposa política fluminense flanasse pelo país como um moderno gestor, um “namoradinh­o do Rio”.

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