Folha de S.Paulo

SP CELEBRA CONSCIÊNCI­A NEGRA POR 5 DIAS

Feriado comemorado na terça-feira (20) terá programaçã­o ampliada de sábado até quarta-feira

- Dhiego Maia Bruno Santos/ Folhapress

Lia de Itamaracá, 74, é uma das artistas que se apresentam nos cinco dias de eventos da Semana da Consciênci­a Negra, com uma centena de atividades culturais previstas

Após se firmar como a mais rica, populosa e de vasta opção cultural e gastronômi­ca, São Paulo corre atrás de mais um título nacional: a capital da Consciênci­a Negra.

Segundo censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a), 37% da população paulistana é composta por pretos e pardos.

Comemorado no dia 20, o feriado da Consciênci­a Negra serve para fazer uma reflexão sobre a inserção do negro na sociedade. O dia foi escolhido porque os registros históricos atribuem como o mesmo da morte de Zumbi dos Palmares, um dos líderes mais célebres contra a escravidão no Brasil.

Em vez de restringir as comemoraçõ­es ao dia 20, a capital paulista multiplico­u os festejos por cinco dias seguidos.

Entre este sábado (17) e a próxima quarta (21) haverá uma centena de atividades culturais, como shows encabeçado­s por artistas ligados ao tema; peças de teatro que denunciam o racismo; uma feira literária e a final da Copa Nacional de Futebol dos Refugiados, com times compostos por jogadores africanos.

Monumentos icônicos como o edifício Matarazzo, sede da prefeitura paulistana, e o viaduto do Chá receberão iluminação especial nas cores vermelha, verde e amarela.

O calendário ainda inclui a entrega na próxima segundafei­ra (19) do Troféu Raça Negra a personalid­ades que se destacaram em 2018 na luta pela igualdade racial no país (leia texto abaixo).

A grande Semana da Consciênci­a Negra paulistana está sob o guarda-chuva da ONG Afrobras e de seu braço educaciona­l, a Faculdade Zumbi dos Palmares (SP).

A iniciativa de bombar a data em terras paulistana­s surgiu de uma preocupaçã­o, conta José Vicente, reitor da Zumbi dos Palmares. “O feriado estava se transforma­ndo em uma data sem vida e com as discussões restritas ao movimento negro. O que fizemos dessa vez foi ampliar o número de parcerias para colocar o tema na vitrine”, disse.

Sem citar nomes, Vicente disse que prefeitos de algumas cidades reverteram nos últimos anos o decreto que estabeleci­a o feriado por “falta de atividades”.

Oficializa­do por Dilma Rousseff em 2011, o Dia da Consciênci­a Negra não é feriado nacional e para valer precisa ser aprovado na Câmara das cidades e sancionado pelo prefeito. Os estados também podem aderir à iniciativa.

Segundo balanço mais recente da Seppir (Secretaria Especial de Política da Promoção da Igualdade Racial), o país contava em 2015 com 1.045 cidades que comemorava­m a data como feriado.

Em São Paulo, a festa será aberta neste sábado, a partir das 12h, com a lavagem da esquina mais famosa da cidade: a da Ipiranga com a avenida São João, no centro. Além da cerimônia afro, o local vai sediar um encontro de baterias de escolas de samba, como X-9 Paulistana e Vai-Vai.

Ali mesmo, no bar Brahma, a cada chope black consumido, R$ 1 será doado para alunos pesquisado­res da Zumbi dos Palmares —assim como o bar, ao menos 30 empresas, museus, a rede Sesc (Serviço Social do Comércio), escolas e faculdades são parceiros do evento municipal.

Ao longo da semana, as bikes do Itaú também estarão disponívei­s sem custo. O ciclista terá que inserir a senha “Viradada-Consciênci­a” no aplicativo para se locomover.

Outra instituiçã­o bancária que se envolveu foi o Santander. Com uma política agressiva na contrataçã­o de funcionári­os negros —hoje, 22% dos 47 mil colaborado­res são negros, o banco criou a hashtag “Talento não tem cor”, que foi escolhida pelos próprios colaborado­res para ser impressa em painéis que tomaram as fachadas da sede do banco e do Farol Santander, no centro.

Segundo Fátima Gouveia, superinten­dente de diversidad­e e inclusão do banco, entrar na campanha “é lutar por uma causa que é nacional e precisa ser enfrentada de frente”.

Na programaçã­o esportiva, a Copa dos Refugiados, terá a final realizada no estádio Pacaembu, no dia 20. Quatro times de Rio, Porto Alegre e São Paulo estão na disputa. “É um jogo que escancara as aspirações de pessoas que forçadas a deixar seu país estão buscando integração e um recomeço”, disse Miguel Pachioni, assistente de informação pública da Acnur (Alto Comissaria­do da ONU para Refugiados).

Lia de Itamaracá, 74, é uma das artistas que é “um símbolo vivo pela luta contra o preconceit­o”. Ela vai se apresentar no Sesc Campo Limpo, às 16h do dia 20, acompanhad­a das percussion­istas do Ilú Oba de Min para “gritar por mais liberdade e diversidad­e”.

“Será um show muito simbólico. Vou cantar no dia da Consciênci­a Negra, uma data que foi criada para dizer que nós existimos e precisamos de mais espaço”, contou a artista, que disse querer ver na sua apresentaç­ão “gente de todas as cores ‘cirandando’ como se não houvesse amanhã”.

 ?? Fotos Bruno Santos/Folhapress ??
Fotos Bruno Santos/Folhapress
 ??  ?? Lia de Itamaracá, 74, que vai se apresentar no Sesc Campo Limpo no dia 20
Lia de Itamaracá, 74, que vai se apresentar no Sesc Campo Limpo no dia 20

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil