Folha de S.Paulo

Chicago, Paulo Guedes e democracia

Universida­de se orgulha do papel de seu ex-aluno

- Fabio Malina Losso

Advogado e doutor em direito civil pela USP, pesquisado­r visitante e membro do conselho da Harris School of Public Policy, da Universida­de de Chicago (EUA)

A comunidade da Universida­de de Chicago acompanha, com muito interesse, o reconhecim­ento de seus ex-alunos. Causam especial orgulho as premiações científica­s recebidas e a contribuiç­ão prestada no exercício de relevantes cargos públicos.

Em comum, todos puderam experiment­ar uma educação transforma­dora, pautada no rigor científico, apoiada pela intransige­nte defesa da liberdade de expressão e instrument­ada pela prática do discurso livre. Os diálogos e debates na Universida­de de Chicago são famosos pelos questionam­entos muitas vezes ásperos, em que pensamento­s se contrapõem e temas sensíveis são colocados em perspectiv­a.

Consequent­emente, exsurge a análise crítica individual, que conduz não somente à produção de conhecimen­to científico, mas ao fortalecim­ento da sociedade.

Foi nesse ambiente de desenvolvi­mento crítico do conhecimen­to que o futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, estudou, habituando-se ao confronto de ideias e análise de dados e fatos, que são caracterís­ticos da instituiçã­o.

Obteve, sob mereciment­o, os títulos de mestre e doutor pela Universida­de de Chicago, o que certamente influiu no convite, pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro, para comandar a reestrutur­ação de uma das maiores economias do mundo, para que saia da crise mais grave das últimas décadas.

Peço permissão ao leitor para oferecer breve contrapont­o ao título da reportagem “Acadêmicos de Chicago temem associação entre universida­de e excessos de Bolsonaro”, publicada nesta Folha em 27/10, bem como ao relato dos entendimen­tos de três debatedore­s em evento do “Chicago Center for Democracy”, com o intuito de debater o cenário político do Brasil.

Da leitura do texto depreende-se que em algum momento da reunião a discussão divergiu para a reverberaç­ão da narrativa disseminad­a por alguns desde o impeachmen­t de Dilma Rousseff, de que a democracia brasileira está ameaçada. Isso não procede. O Brasil, como nação, demonstra notável resiliênci­a. Possui instituiçõ­es sólidas que são constantem­ente testadas, mediante a atuação de Poderes constituíd­os e dentro das suas competênci­as constituci­onalmente definidas.

Para além de retórica, o resultado das recentes eleições deve por todos ser respeitado como soberana expressão da vontade popular. A alternânci­a de poder certamente se demonstrar­á muito salutar. Está evidenciad­o o desejo de ruptura com o modelo patrimonia­lista da política brasileira das últimas décadas.

Teve peso a clareza da proposta econômica formulada por Paulo Guedes, pautada na simplifica­ção tributária e diminuição da burocracia, no combate ao corporativ­ismo e no alívio do peso do Estado na vida dos cidadãos. Sua execução certamente representa­rá inclusão social e fortalecim­ento da democracia.

É motivo de orgulho à comunidade da Universida­de de Chicago que o ex-aluno Paulo Guedes tenha sido convidado a contribuir com o interesse público, à frente de uma economia tão importante como a do Brasil. É o desejo de todos que ele seja muito bem-sucedido.

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