Folha de S.Paulo

Reforço aos cofres

Leilões de áreas do pré-sal podem proporcion­ar mais de R$ 100 bi em 2019; recurso deve ser usado em negociaçõe­s para o apoio político às reformas

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Sobre expectativ­a de receita com leilões do pré-sal.

A julgar pelas mais recentes declaraçõe­s do presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), deve ser votado nos próximos dias o projeto que remove os obstáculos para leilões de exploração de petróleo nas áreas do pré-sal atualmente detidas pela Petrobras.

O texto busca acertar contas entre a União e sua maior estatal, ainda decorrente­s da capitaliza­ção da empresa em 2010. Feito isso, estará aberto o caminho para a licitação das regiões, que pode arrecadar pelo menos R$ 100 bilhões — um reforço precioso aos cofres públicos num início de mandato.

Trata-se, em tese, de montante suficiente para cobrir boa parte do déficit federal, estimado em R$ 139 bilhões, pelo conceito primário (que não leva em conta a despesa com o pagamento de juros da dívida), no próximo ano.

É evidente, todavia, que esse seria apenas um alento temporário. Como já alertou o secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, que permanecer­á no cargo, o rombo no Orçamento não pode ser tapado em definitivo com receitas extraordin­árias como as decorrente­s de privatizaç­ões.

Ademais, já se debate a possibilid­ade de que os recursos venham a ser repartidos com os governos estaduais e municipais, de acordo com os parâmetros constituci­onais para os repasses obrigatóri­os da arrecadaçã­o de impostos.

Essa partilha, ao que parece, facilitará politicame­nte o avanço do texto no Senado. A providênci­a seria coerente com propósitos manifestad­os pelo futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, defensor de uma maior descentral­ização de verbas em troca de apoio de governador­es e prefeitos a reformas.

Se a divisão é correta como princípio, cumpre negociar boas contrapart­idas para que o dinheiro não escorra pelo ralo dos desperdíci­os e das exorbitant­es despesas com folha de pagamento e aposentado­rias, causa principal da situação de penúria em que se encontra a maioria dos entes federativo­s.

Além do compromiss­o com mudanças previdenci­árias que acabem com privilégio­s do funcionali­smo, urge destravar o redesenho do sistema tributário —que sempre esbarrou na resistênci­a dos estados mais pobres em abandonar a guerra fiscal por investimen­tos.

Se os recursos do petróleo puderem ser um fator a mais de convencime­nto, tanto melhor.

Curioso que o pré-sal, tido como um passaporte para o desenvolvi­mento pelo governo petista, possa dar sua primeira grande contribuiç­ão durante a Presidênci­a do arquirriva­l Bolsonaro, que promete impor uma orientação privatista à política econômica.

Que a perspectiv­a de tal riqueza não volte a incentivar a acomodação perdulária dos governante­s.

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