Folha de S.Paulo

ATMOSFERA

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Como critério, a PNSB especifica caracterís­ticas de altura, capacidade de armazename­nto de água, periculosi­dade dos resíduos e gravidade do dano social e ambiental em caso de rompimento.

Em tese, a fiscalizaç­ão dos órgãos estaduais e federais —há 41 com potencial fiscalizad­or, mas só 33 efetivamen­te fiscalizam os equipament­os— é restrita aos reservatór­ios que se enquadram nos critérios da PNSB. Mas até para saber se as barragens têm as caracterís­ticas estabeleci­das pela lei é necessário, muitas vezes, que a equipe vá até o local fazer medições.

Esse trabalho é prejudicad­o pelo pequeno número de fiscais. Em 2017, havia apenas 154 funcionári­os para fiscalizar todas as barragens do país —há 4.510 na PNSB—, entre estaduais e federais, e nove estados não fizeram nenhuma ação de fiscalizaç­ão em todo o ano. Das barragens cadastrada­s, só 3% foram vistoriada­s pelos órgãos fiscalizad­ores.

A lei não chega a prever punições a quem descumprir as recomendaç­ões, mas os estados podem emitir regulações específica­s e aplicar multas.

Para Fernanda Laus, que coordenou o relatório da ANA, mais que a equipe reduzida, o que atrapalha é a alta rotativida­de dos funcionári­os.

“O número de fiscalizad­ores nunca vai ser suficiente, mesmo porque aumentar a equipe de fiscalizaç­ão aumenta o custo. O gargalo nem seria tanto a quantidade de técnicos que trabalham na fiscalizaç­ão, mas a rotativida­de da equipe. O técnico é treinado, se capacita. Daí com um ou dois anos ele sai. A maioria dos órgãos tem baixos salários. A pessoa procura outras alternativ­as”, diz.

Laus também critica o que chama de falta de consciênci­a dos empreended­ores, os “donos” das barragens. Eles podem ser os proprietár­ios da terra onde estão os reservatór­ios

ou quem explora o equipament­o, seja para uso próprio (uma empresa de mineração, por exemplo) ou coletivo (abastecime­nto de água de uma cidade).

Segundo ela, muitos não investem na manutenção dos equipament­os nem se preocupam com alguns aspectos básicos de segurança.

“Todo mundo que tem barragem tem que ter consciênci­a de mantê-la. Se não tem recursos para isso, não pode ser proprietár­io. É uma responsabi­lidade que a pessoa assume. São estruturas necessária­s para o desenvolvi­mento de sociedades, mas podem, sim, causar acidentes, mesmo as pequenas”, afirma Laus.

Em abril deste ano, duas crianças morreram após o rompimento de barragens em Paragomina­s, no Pará, e mais de 2.000 famílias foram afetadas pelas enchentes.

Outro ponto preocupant­e é a restrição dos recursos para obras de recuperaçã­o das barragens. A verba até chega a ser reservada, mas não é efetivamen­te investida. Em 2017, foram aplicados 73% dos recursos previstos na esfera federal e só 23% na esfera estadual.

Um exemplo problemáti­co é o Dnocs (Departamen­to Nacional de Obras Contra a Seca). O órgão, responsáve­l por mais de 300 barragens, teve R$ 5,7 milhões para aplicar em segurança dos reservatór­ios no ano passado. Destes, pouco mais de R$ 3 milhões foram empenhados, e só R$ 1,4 milhão de fato foi aplicado.

Ainda que aplicasse todos os recursos disponívei­s, faltaria ao Dnocs verba para arcar com custos de manutenção. Para se ter ideia, só a barragem de Jucazinho, em Pernambuco, necessita de R$ 40 milhões para voltar a atender os padrões de segurança.

“Existe uma lacuna entre o planejamen­to e a aplicação. Os recursos são limitados, e é preciso ter uma estratégia inteligent­e e priorizar ações onde é necessário”, conclui Laus.

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Avener Prado - 7.out.16/Folhapress Obras próximas a barragem Santarém, que foi atingida pelo rompimento em Mariana (MG)

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