Folha de S.Paulo

Choque de realidade

- Leandro Colon

Divisões no núcleo duro do governo, mal-estar com o Congresso, apelo de governador­es por dinheiro, ministros enrolados com o passado, outros questionad­os pelo currículo duvidoso, e o risco de colapso de relevante programa social.

Após três semanas de transição, o presidente eleito, Jair Bolsonaro, começa a se dar conta de que é muito mais fácil fazer campanha do que governar. No caso dele, uma campanha sem debates, com raras entrevista­s e uma comunicaçã­o feita via rede social, escapando do contraditó­rio.

A formação do novo governo inevitavel­mente expõe Bolsonaro e o obriga a dar mais satisfaçõe­s do que desejaria. Ele não disfarçou o incômodo em ter de responder sobre a segunda suspeita de caixa dois em torno do seu ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. “100% (da minha confiança) ninguém tem, ok?”, afirmou aos repórteres em relação ao episódio divulgado pela Folha.

Onyx, aliás, tem sido alvo de críticas de parlamenta­res pela dificuldad­e de interlocuç­ão com o Congresso.

Chefe da economia, Paulo Guedes percebeu que o menosprezo ao Legislativ­o tem efeito nocivo para os interesses do Planalto. Não à toa, procurou o presidente do Senado, Eunício Oliveira, para aparar as arestas.

Panelas ficam evidentes na nova gestão. Há o grupo dos generais, a turma da relação política, a ala econômica e o clã familiar do presidente eleito. Cada patota tentando ocupar espaços, dar palpite e influencia­r no jogo de xadrez bolsonaris­ta.

O gesto da ditadura cubana de anunciar a saída do programa Mais Médicos jogou antes da hora no colo de Bolsonaro o desafio de provar que suas convicções ideológica­s não compromete­rão os mais necessitad­os. Ficará nas mãos do seu governo a vida de quem precisa de assistênci­a médica nos rincões do país.

Nada dito aqui é novidade na política brasileira. FHC, Lula, Dilma Rousseff e Michel Temer enfrentara­m, reservadas as circunstân­cias, problemas parecidos. A diferença é que, no caso de Bolsonaro, o governo de fato ainda nem começou.

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