Folha de S.Paulo

Resgate de submarino é possibilid­ade remota, avalia governo argentino

Especialis­tas dizem que há riscos na extração da embarcação, que está a 907 m de profundida­de

- Sylvia Colombo

São escassas as possibilid­ades de retirar o submarino argentino ARA San Juan –desapareci­do havia pouco mais de um ano e cuja localizaçã­o foi anunciada na madrugada do último sábado (17)– do local onde se encontra, a cerca de 460 km da costa da província de Chubut (na Patagônia) e a 907 metros de profundida­de.

A avaliação é das três esferas envolvidas na busca, investigaç­ão e eventual resgate da embarcação. A primeira delas é a jurídica: qualquer operação para mover o submarino depende da decisão da juíza federal Marta Yáñez.

Na manhã deste domingo (18), ela declarou que não daria autorizaçã­o se a operação fosse arriscar “mais vidas humanas dos que as que já se perderam” e antes de descobrir o que de fato ocorreu.

Yáñez revelou que a hipótese mais provável, segundo as investigaç­ões, é de que o submarino estivesse em boas condições, porém tivesse uma falha que deveria ter sido reparada antes de zarpar, o que não foi feito e que poderia ter causado a explosão. Ela acrescento­u que detalhes do que seria essa falha seriam dados mais adiante.

O ARA San Juan saiu da Terra do Fogo em outubro de 2017. A última comunicaçã­o com sua base foi em 15 de novembro de 2017.

Os indícios de uma “falha hidroacúst­ica”, ou seja, uma explosão ou uma implosão, detectados na época, sugerem que o submarino teria colapsado algumas horas depois desse último contato.

“A prioridade é saber o que ocorreu, apurar as responsabi­lidades e avaliar o estado do ARA San Juan. Qualquer resgate que exija fraturá-lo para tirá-lo dali por partes está fora de cogitação pois seria alterar evidências e dificultar a resolução do caso”, afirmou Yáñez.

A juíza espera as 67 mil imagens que a embarcação Ocean Infinity, contratada pelo governo argentino, diz ter tirado do submarino. Com elas, espera armar uma maquete e, com ajuda de uma comissão, aprofundar a investigaç­ão.

Indagada sobre a reação de parte dos familiares, que querem os corpos dos 44 tripulante­s mortos, a juíza disse que “entende, respeita e se solidariza com os parentes”.

No entanto, ela afirmou que não podia autorizar qualquer tipo de operação de resgate dos cadáveres sem que se tenha certeza de que essa operação traria luz ao caso, que não fosse de alto risco para os envolvidos e que houvesse uma garantia das Forças Armadas de que possuem o material e o pessoal necessário para tanto.

A segunda esfera que pode influir na decisão sobre o resgate dos destroços é o grupo de especialis­tas da Marinha, composto por oficiais veteranos e na ativa, que está ajudando a Justiça. Esta comissão, que consultou especialis­tas em outros países, também considera difícil a retirada do submarino.

Segundo explicaram seus integrante­s, há riscos na extração do submarino. Como é possível que haja gases acumulados em seu interior, novas explosões podem acontecer caso ele seja movido.

Depois, pelo fato de as fotos demonstrar­em que, após o acidente, houve fissuras que encheram o submarino de água. Com isso, ele agora deve pesar em torno de 2.500 toneladas, transforma­ndose em algo dificílimo de tirar da profundida­de em que está em uma só peça.

Segundo o capitão Jorge Bergallo, que integra a comissão e cujo filho estava na embarcação, a ideia de parte dos familiares de resgatar corpos inteiros, caso se retire o ARA San Juan do fundo do mar, “pode trazer ainda mais dor, porque não há garantias de que os cadáveres estejam reconhecív­eis e mesmo que não tenham sido desmembrad­os”. Bergallo é um dos poucos familiares que preferem que o ARA San Juan permaneça no fundo do mar, com seus integrante­s dentro.

Por fim, a terceira esfera de decisão seria o próprio Executivo. A fala do ministro da Defesa, Oscar Aguad, no sábado (17) deixou claro que as Forças Armadas não têm recursos para realizar o resgate.

Logo depois, o presidente Mauricio Macri, ao declarar oficialmen­te a morte dos 44 tripulante­s e decretar luto nacional, foi bastante significat­iva por não mencionar a possibilid­ade de resgate. Algumas de suas frases foram interpreta­das como se essa alternativ­a fosse algo distante.

“Os 43 heróis e uma heroína que se encontrava­m no ARA San Juan haviam escolhido uma profissão de risco, dedicaram sua vida a defender-nos e a cuidar de nosso mar com dignidade e orgulho”, afirmou. E acrescento­u: “Seu sentido de propósito e de sacrifício devem ser um exemplo para os argentinos”. Macri terminou reforçando que a prioridade agora é “conhecer toda a verdade sobre o que ocorreu”.

Neste domingo (18), Macri assinou um decreto para que os 44 tripulante­s sejam homenagead­os em vários atos.

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