Folha de S.Paulo

Relator deve tirar de projeto trecho que poderia sujeitar BC a pressão externa

Texto que estabelece autonomia da instituiçã­o prevê aumentar número de membros do CMN

- Vinicius Torres Freire

O deputado federal Celso Maldaner (MDB-SC) deve alterar o substituti­vo do projeto de lei que trata da autonomia do Banco Central.

Segundo afirmou a assessoria do parlamenta­r neste domingo, (18) o texto não vai mais tratar da composição do CMN (Conselho Monetário Nacional). Maldaner é o relator do projeto, que pode ser votado ainda neste ano.

Atualmente, o CMN é composto dos ministros da Fazenda e do Planejamen­to e do presidente do Banco Central. O colegiado define, por exemplo, a meta de inflação e outras diretrizes de política monetária, além de determinar normas de funcioname­nto e fiscalizaç­ão do sistema financeiro.

Até sexta-feira (16), o texto do projeto de lei modificava a composição do CMN, como noticiou a Folha neste domingo. Lá passariam a ter assento os ministros da Fazenda e do Planejamen­to e outros sete integrante­s a serem indicados pelo presidente da República.

O objetivo principal do projeto é conceder mandatos fixos de quatro anos para o presidente do Banco Central e de seis anos para sete diretores, não coincident­es com o mandato do presidente da República, que os nomearia, mas não poderia demitir, a não ser em casos especiais.

Com mandatos definidos, em tese a direção do BC sofreria menos pressões do Executivo na definição de suas políticas, a de taxas de juros em particular.

Desde 1994, o CMN tem a composição atual. A mudança, que ocorreu durante as reformas associadas ao Plano Real, tinha como objetivo isolar o colegiado de pressões econômicas e políticas estranhas a discussões mais estritas de política monetária (relativas a taxas de juros e inflação) e de regulação financeira.

Em nota, a assessoria do deputado Maldaner afirmou que “...o substituti­vo do projeto a ser apresentad­o não irá tratar da composição do Conselho Monetário Nacional, portanto ela permanecer­á igual. A minuta irá prever o estabeleci­mento em lei das autonomias operaciona­l e administra­tiva para o BC perseguir a meta de inflação estabeleci­da pelo CMN, incluindo a fixação de mandatos para seus dirigentes”.

A assessoria do deputado disse que não poderia repassar à Folha a minuta do novo projeto de autonomia.

O presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), pretende fundir os ministério­s da Fazenda e do Planejamen­to no Ministério da Economia, a ser comandado pelo economista e financista Paulo Guedes.

Caso se confirme tal plano, será necessária alguma modificaçã­o na composição do CMN, pois a pasta do Planejamen­to deixará de existir.

Quando foi criado, em 1964, o CMN tinha 9 integrante­s; até 1994, chegou a contar com 27 membros.

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