Varejo antecipa e estica Black Friday para tentar salvar ano complicado
Caminhoneiros, Copa e eleição prejudicaram vendas; consumidor planeja gastar mais na data
As apostas dos vare-jistas na Black Friday, data im-portada dos EUA eque aconte-ce pelo oitavo ano consecuti-vo no Brasil, são altas. Depois de paralisação dos caminhoneiros, Copa do Mundo e eleições, eventos que travaram as vendas, o comércio quer recuperar o tempo perdido.
Pesquisa da SPC Brasil mostra que as pessoas estão mais dispostas a abrira carteira neste ano. Seis em cada dez consumidores (58%) vão fazer compras durante a data de promoções, 18 pontos percentuais a maisque 2017.
Além de mais gente comprando, o gasto médio deve ser um pouco maior: R$ 1.268,63 no total de compras —no ano passado, esse valor era de R$ 1.047. Outro levantamento, feito pela Ebit/Nielsen, afirma que o gasto médio com compras deve subir 8%.
“A Black Friday pode dar uma esperança [para 2018]. Costumamos dizer que o Dia da Criançaéoens aio para o Natal, mas neste ano ele aconteceu bem no meio da eleição, e as vendas foram ruins”, diz Marcela Kawauti, economista-chefe do SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito).
Para ela, momentos posteriores aos pleitos tendem a deixaras pessoas mais esperançosas e, con se quen temente, mais dispostas agastar, independentemente de quem seja eleito.
“A economia pode começar a destravara partir de novembro, ea Black Friday podes er uma boa data”, afirma.
Pesquisa da Ebit/Nielsen projeta expansão de 15% no faturamento do comércio eletrônico, para R$ 2,43 bilhões.
Com o consumidor mais propenso agastar, a Black Friday começam ais cedo em alguns estabelecimentos. Varejistas como o hipermercado Extra e as Lojas Americanas vão abrir as portas na quintafeira (22) à noite.
Casas Bahia e o Pontofrio foram mais longe e esticaram o apelo da Black Friday para todo o mês, com ofertas que mudam diariamente.
As promoções no Extra começam nesta segunda-feira (19), em itens selecionados. A rede oferece preços mais atrativos também no aplicativo.
Na véspera da Black Friday, a rede abrirá às 20h com toda a loja em promoção. “Apesar da antecipação, a rede está foca- da nos descontos da sexta-fei- ra”, afirma Christiane Cruz, di- retora de marketing do Extra.
O diretor-executivo da re-de, Alberto Calvo, afirma que a data registra a maior quan- tidade de itens vendidos em um dia. Para ter ideia, no ano passado foram vendidos cerca de 800 mil potes de plásticos e 220 mil cuecas e calcinhas.
A expectativa é que o crescimento seja de dois dígitos em relação a 2017.
Nas Lojas Americanas, 33% dos estabelecimentos serão abertos na meia-noite de quinta e também haverá extensão do horário de funcionamento, de acordo com Carlos Padilha, diretor financeiro e de relações com investidores.
A estratégia de antecipar promoções mais agressivas tem dado certo na The Beauty Box, multimarca do Grupo Boticário.
De acordo com Guilherme Reichmann, diretor-geral da marca, em uma das “flash promos”, as vendas no site quintuplicaram. Nas lojas, a alta foi de 20%.
A rede também passou a oferecer retirada na loja dos produtos comprados pelo comércio eletrônico.
“Durante as promoções, teve loja que registrou o dobro de consumidores, por causa dos que foram buscar pacotes”, diz. Nas ofertas, que duram algumas horas, itens de R$ 30 foram vendidos por R$ 4.
De acordo com Reichmann, a ideia foi atrair novos clientes para a marca. “É um momento em que consumidores compram em loja nova.”
A expectativa, diz, é que os novos consumidores retornem para as compras de Natal.
Segundo pesquisa da SPC, 30% dos consumidores farão as compras de Natal já na sexta.
A empolgação do consumidor, no entanto, também é motivo para preocupação, num cenário de desemprego ainda elevado.
Para Marcela, do SPC, os dados mais alarmantes na pesquisa da entidade são os que mostram a falta de planejamento financeiro.
Entre os entrevistados que vão fazer compras, 25% afirmam que costumam gastar mais do que podem e 21% têm alguma conta atrasada —desses, 69% estão com o nome sujo.
“A ideia de que não sepo deperdera oportunidade é agrande vilã ”, afirma o pro- fessor de gestão financeira da FGV (Fundação Getulio Vargas), Ricardo Teixeira. Para ele, o país ainda vive uma retomada, e não é hora de fazer comprass empensar. Compras devem ser feitas somente quando se tem segurança absoluta de que haverá dinheiro para pagá-las, afirma. E servidores não devem contar 100% com o 13º, dada a crise dos estados.
Marcela, da SPC, concorda. “Muita gente compra a prazo pela empolgação. E aquilo que era muito barato pode ficar mais caro do que o valor cheio, se o consumidor não conseguir pagar a fatura do cartão.”