Outros médicos foram demitidos por prefeitos em troca de cubanos, diz Bolsonaro
O presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) afirmou neste domingo (18) que alguns prefeitos demitiram médicos para contratar cubanos e “ficarem livres da responsabilidade”.
“Tem prefeitura que simplesmente mandou embora o seu médico para pegar o cubano, quer ficar livre da responsabilidade. A convocação é só em situações extraordinárias”, disse ele no Rio.
Em agosto de 2013, pouco antes da chegada dos primeiros médicos cubanos ao país, prefeitos e secretários revelaram à Folha que, para aliviar as contas municipais, profissionais contratados seriam trocados pelos do Mais Médicos.
Na época, a reportagem identificou 11 cidades de quatro estados que pretendiam fazer as demissões para participar do programa.
Dentro do Mais Médicos, há uma ordem na escolha dos profissionais. A prioridade é para brasileiros e estrangeiros com registro no Brasil, seguidos por brasileiros e estrangeiros formados no exterior que não tiveram seu diploma revalidado aqui. Por fim, se todas essas categorias não completarem as vagas oferecidas, são chamados os cubanos.
Neste domingo, Bolsonaro também voltou a afirmar que os médicos cubanos fazem trabalho “análogo à escravidão”. “Você é mãe por acaso? Você sabe o que é ficar longe dos filhos?”, perguntou a uma jornalista. “As cubanas estão aqui e estão longe dos seus filhos há mais de um ano.”
Segundo a Opas (Organização Pan-Americana de Saúde), responsável por intermediar a vinda de médicos cubanos ao Brasil, no contrato com o governo brasileiro não há vedação à vinda de familiares.
Em 2015, porém, a Folha mostrou que o governo de Cuba ameaçava substituir os médicos que insistam em manter os familiares no Brasil. O principal argumento de Cuba era que o contrato de trabalho previa apenas que eles pudessem receber visitas de parentes —sem menção a moradia.
“Não podemos continuar alimentando a ditadura cubana”, disse Bolsonaro. “É justo confiscar 70% do trabalho de uma pessoa? Não é justo.”
Diferentemente do que acontece com os médicos brasileiros e de outras nacionalidades, os cubanos do Mais Médicos recebem apenas parte do valor da bolsa paga pelo governo do Brasil.
Pelo contrato, o governo brasileiro paga à Opas o valor integral do salário, que, por sua vez, repassa a quantia ao governo cubano. Havana paga apenas uma parte aos médicos (cerca de um quarto) e retém o restante.