Folha de S.Paulo

Mesmo faltando calor e ímpeto, ópera ‘Turandot’ arrebata público

Obra derradeira de Puccini, famosa pela ária ‘Nessun Dorma’, ganha encenação ambiciosa no palco do Theatro Municipal

- Camila Fresca

“Nessun Dorma” é uma das árias mais famosas do repertório lírico. Admirada pelo público de ópera, ganhou popularida­de mundial na década de 1990 com Luciano Pavarotti e seu grupo Os Três Tenores. A ária é o ponto culminante da ópera “Turandot”, obra que o Theatro Municipal de São Paulo escolheu para encerrar a sua temporada lírica.

Com casa lotada e público entusiasma­do, a estreia na semana passada mostrou uma grande produção, com mais de 170 artistas no palco, e direção cênica de André Heller-Lopes. A direção musical é do maestro Roberto Minczuk, que está à frente da Orquestra Sinfônica Municipal.

Completam o time o Coro Lírico, com regência de Mário Zaccaro, e o Coral Paulistano, sob direção de Naomi Munakata.

Um dos maiores mestres da ópera italiana, considerad­o o herdeiro de Giuseppe Verdi, Giacomo Puccini, morto aos 65, em 1924, não teve tempo de concluir “Turandot”.

Baseada em uma velha lenda chinesa, a obra foi adaptada para o teatro no século 18 por Carlo Gozzi e já havia inspirado uma dezena de autores de óperas até despertar a atenção do compositor.

Depois da morte de Puccini, seu aluno Francesco Alfano completou as últimas páginas da partitura. Mais tarde, Toscanini revisou o trabalho de Alfano, fazendo uma versão mais enxuta, que é a comumente apresentad­a.

Essa última ópera de Puccini é também a mais bem acabada, com estrutura harmônica rica e audaciosa, em estrito diálogo com as situações dramáticas. Aqui já não se tem mais o autor verista, mas sim um compositor que, se está longe da vanguarda, dialoga com a música de seu tempo, a virada do século 19 para o 20.

“‘Turandot’ tem uma força na história da ópera como poucas obras têm. É de uma inspiração e criativida­de inacreditá­veis. Puccini conhecia muito bem Debussy, Wagner, Stravinsky e Schoenberg. Ele incorpora ideias de vários compositor­es mas as trata como suas. ‘Turandot’ é impression­ista, moderna, é a coroação de uma carreira única”, afirma o maestro Roberto Minczuk.

Na estreia, a soprano americana Elizabeth Blancke-Biggs encarnou a princesa Turandot. De beleza lendária, ela submete seus pretendent­es a um teste. Aquele que acertar obterá a mão da princesa e, com ela, o trono da China. Mas, se falharem, estarão condenados à morte.

Algumas dezenas de pretendent­es já haviam sido malsucedid­os até a chegada de Calaf, que vence o desafio —o personagem ficou a cargo do tenor canadense David Pomeroy.

São solistas de vozes poderosíss­imas e boa atuação cênica, mas faltou alguma sutileza nas partes mais líricas.

Nesse sentido, a grande ária de Calaf, “Nessun Dorma”, foi quase um anticlímax —apesar de bem executada tecnicamen­te, careceu de calor e ímpeto.

Mas sutileza e calor na interpreta­ção não faltaram à personagem Liu, da soprano brasileira Gabriella Pace. Ela encerra uma grande temporada, na qual também brilhou no papel título de Kátia Kabanová, no Theatro São Pedro.

O desempenho vocal dos demais solistas também foi muito bom, com uma relação equilibrad­a entre as suas vozes no palco.

André Heller-Lopes optou por uma montagem que preserva as caracterís­ticas originais do enredo e que resultou em grande beleza cênica.

“Não quis encenar esta ópera como uma peça naturalist­a ou mesmo dentro de um verismo melodramát­ico, mas mergulhar nas cores da fábula, da fantasia, da commedia dell’arte e de toda teatralida­de”, afirma. “Turandot” segue em cartaz até o dia 25 de novembro, alternando elencos a cada apresentaç­ão.

Turandot

Theatro Municipal, pça. Ramos de Azevedo, s/nº, tel. (11) 3053-2100. Seg. (19), às 20h, qua. (21), às 20h, qui. (22), às 20h, sáb. (24), às 20h e dom. (25), às 18h. 12 anos. Ingr.: R$ 40 a R$ 150, no site eventim.com.br

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Divulgação Cena da ópera ‘Turandot’, no Theatro Municipal

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