Folha de S.Paulo

Bolsa de NY zera ganhos do ano, e incerteza cresce

Tombo feio nas Bolsas é reação ao começo da perda de ritmo da economia dos EUA

- Vinicius Torres Freire Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administra­ção pública pela Universida­de Harvard (EUA)

O povo do dinheiro está nervoso nos Estados Unidos. No final do feriadão brasileiro e pouco antes do feriadão de Ação de Graças americano, as Bolsas tomaram outro tombo, daqueles feios que vêm levando desde o Outubro Vermelho.

Essa história pode ter interesse para o Brasil, além da confusão que deve acontecer hoje nos mercados daqui.

Dadas as perdas de um mês para cá, os principais índices das Bolsas americanas voltaram ao nível do início do ano —ganho zero.

A taxa de juros de 10 anos deu uma acalmada.

O preço do petróleo (Brent) voltou a níveis de final do ano passado, baixando mais de 25% desde o pico de outubro passado. Pelo menos até a reunião da Opep do começo de dezembro, a previsão é que vai sobrar petróleo.

A perda do valor das empresas de tecnologia está para lá do trilhão de dólares (considerad­os os picos de preço dos últimos 12 meses). Sim, tratase das “Faang”, Facebook, Apple, Amazon, Netflix, Google, além de outras menos cotadas.

O pessoal de Wall Street está nervoso também porque quebrou a cara com as compras que fez em outubro, na xepa, achando que faturaria uma alta agora em novembro.

Em suma, os preços estavam altos e o dinheiro para manter a viagem à lua das ações de tecnologia ficou mais caro. Mas o estrago é mais extenso e reforça discussão mais ampla. De quanto vai ser a desacelera­ção americana?

As condições financeira­s ficaram mais apertadas (taxas de juros mais altas, agora Bolsas caindo etc.), o investimen­to das empresas em expansão cresce menos e os americanos acham que ficou mais difícil comprar casa e carro.

A redução dos impostos para empresas, o estímulo fiscal de Donald Trump, não deve mais fazer efeito de agora em diante; o lucro das empresas não deve subir de modo tão animado. O dólar mais forte e o tumulto comercial de “Nero” Trump prejudicam um tanto mais a economia.

Em tese, tudo isso sugere uma desacelera­ção. Já provocou também discussões sobre o que o Banco Central dos EUA (Fed) pode fazer em 2019, talvez até cortando um degrau da alta da taxa de juros. A expectativ­a de inflação começa a baixar.

Talvez as Bolsas estejam refletindo o temor de que o cresciment­o americano vá ser menor.

Uma desacelera­ção suave dos Estados Unidos não seria assim mau negócio para o Brasil. Excluída a hipótese de choques, a taxa de câmbio ficaria calminha, o dinheiro grosso continuari­a disposto a fluir para cá (como continuou a vir, mesmo durante os horrores da recessão e com anos de incerteza).

Sim, é especulaçã­o um tanto vaga, mas durante um tempo consideráv­el se discutiu a perspectiv­a de aqueciment­o além da conta da economia americana e até de altas extras de juros.

Sim, pode ser também que a reviravolt­a vista desde o Outubro Vermelho provoque alguns paniquitos, em vez de pouso suave. Pode ser que os algoritmos que negociam papeis ajudem a tumultuar o ambiente.

Pode acontecer o de costume, crise, quebras, depois que acaba um período longo de farra financeira, com dinheiro barato.

Sim, há ainda o risco de Donald “Nero” Trump, que desde a posse ajuda a tumultuar a economia mundial, criando crises diplomátic­as e comerciais. A reunião de Cúpula do G20 no final de mês pode dar uma pista sobre o nível de tensão nas relações sino-americanas.

Seja qual for a conversa mundial, uma parte importante dela agora é sobre a baixa do cresciment­o americano.

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