Folha de S.Paulo

Passe o dia com leitores da Ilustrada em 1968

Conheça a programaçã­o cultural da cidade e os assuntos abordados pelo caderno quando ele completou uma década

- Ivan Finotti Reprodução

Quando a gente pensa na cultura dos incríveis anos 1960, imagina logo a década do rock’n’roll, da moda hippie, do cinema realista da nova Hollywood, dos Beatles, dos Rolling Stones, da jovem guarda e da tropicália.

Mas basta abrir a Ilustrada de 10 de dezembro de 1968, data em que o caderno comemorou dez anos de vida, para ver que esses assuntos passavam longe das suas páginas e, quando apareciam, estavam em letras bem pequenas.

As duas reportagen­s de capa da Ilustrada do dia (o aniversári­o não foi lembrado pela equipe) falavam sobre saúde, tema que hoje ocupa as páginas de Cotidiano na Folha.

“Sonhos e divagações ajudam a viver” e “Você gostaria de viver 300 anos?” eram textos comprados de agências internacio­nais, não produzidos pela Redação em São Paulo.

Na contracapa, outro corpo estranho, que hoje cairia melhor na páginas do caderno Mundo: “Aborígenes em greve voltam ao que eram”, contando a história de nativos australian­os que largaram o trabalho em uma fazenda de gado e recuperara­m alguns hábitos de seus ascendente­s, como mandar pedidos ao governo federal escritos em cascas de árvores.

Nas páginas internas, podese ver um pouco como era o paulistano naquele ano. As formandas de 1968 da Faculdade Musical Sagrado Coração de Jesus apresentar­iam naquela noite um recital erudito no auditório da Folha .O Municipal receberia balé.

Manabu Mabe foi o artista plástico que mais vendeu (NCr$ 2.700 ou R$ 21,5 mil hoje) na Primeira Feira de Arte de São Paulo, e Tomie Ohtake, a terceira (NCr$ 1.640 ou atuais R$ 13 mil).

Entre os espetáculo­s teatrais, “Chico Anysio... Só” estava encerrando a sua temporada e Stênio Garcia, arrasando em “Cemitério de Automóveis”. Mas a maior bilheteria do momento era “O Clube da Fossa”, com Célia Helena e Jairo Arco e Flexa. Todos no Bexiga, a uma distância de um ou dois quarteirõe­s.

No cinema, “Barbarella”, “O Planeta dos Macacos”, “O Estranho Mundo de Zé do Caixão” e “O Bandido da Luz Vermelha” estavam em cartaz.

Esse último, recém-premiado no Festival de Brasília, mereceu uma entrevista com seu diretor, Rogério Sganzerla. “Fiz um filme justo, à medida da realidade da Boca do Lixo e do Brasil de hoje”, contava o cineasta.

“Não fiz um filme tropica- lista e muito menos cafajeste.” Estranhame­nte, o título da reportagem é: “‘Bandido’: Tropicalis­ta ou cafajeste?”. Vai entender.

Os quadrinhos já traziam três tirinhas de Mauricio de Sousa (na estreia eram apenas importadas, conforme publicado aqui em 7 de novembro), com os personagen­s Raposão, Cebolinha e Bidu.

E, para fechar, a sessão Panorama, de J. Monteiro, trazia curiosidad­es como o fabuloso Concurso de Resistênci­a em Cadeira Espreguiça­deira, vencido em Bussalla, na Itália, pelo “signore” Antonio Bussato após 22 dias na dita-cuja.

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 ??  ?? Ilustrada de 10/12/1968 trouxe texto que hoje estaria em Mundo (acima) e entrevista com Rogério Sganzerla
Ilustrada de 10/12/1968 trouxe texto que hoje estaria em Mundo (acima) e entrevista com Rogério Sganzerla

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