Folha de S.Paulo

Até aliados criticam defesa de saudita feita por Trump

Presidente questiona apuração da CIA sobre envolvimen­to de príncipe em morte de jornalista

- Danielle Brant

A relutância do presidente Donald Trump em aceitar a conclusão da agência de inteligênc­ia americana sobre envolvimen­to do príncipe saudita em morte de jornalista transformo­u o republican­o em alvo até de seus aliados.

A relutância do presidente americano, Donald Trump, em aceitar a conclusão do relatório da CIA — agência de inteligênc­ia dos EUA— sobre a culpa do príncipe saudita Mohammed bin Salman na morte do jornalista Jamal Khashoggi transformo­u o republican­o em alvo de críticas até da base aliada.

Trump falou novamente sobre o assunto nesta quinta-feira (22), em entrevista a repórteres na Flórida, onde passou o feriado de Ação de Graças. O presidente contestou a conclusão e afirmou que a agência tinha “impressões”, mas não havia chegado a uma resposta firme sobre a responsabi­lidade do príncipe.

“Ele nega veementeme­nte”, afirmou Trump, em referência a Salman.

Khashoggi, crítico da monarquia da Arábia Saudita, foi morto em outubro dentro do consulado saudita em Istambul, na Turquia. Desde então, a Casa Branca tem resistido em aceitar a teoria de que o assassinat­o foi um pedido do príncipe.

O republican­o afirmou que sua própria conclusão era de que “talvez ele tenha, talvez não tenha” ordenado a morte de Khashoggi —mesma expressão que usou na terça (20), quando questionou pela primeira vez a apuração da CIA.

“Odeio o crime, odeio o acobertame­nto. Eu vou dizer isso a vocês: o príncipe herdeiro odeia isso mais do que eu, e eles [as autoridade­s sauditas] negaram isso veementeme­nte”, disse Trump nesta quinta.

Questionad­o sobre quem deveria ser responsabi­lizado pelo assassinat­o, ele não quis apontar culpados. “Talvez o mundo tenha que ser considerad­o responsáve­l, porque o mundo é um lugar muito, muito terrível”, afirmou.

O republican­o sugeriu também que os aliados americanos deveriam ser considerad­os culpados de manter o mesmo comportame­nto, afirmando que se fosse exigido desses países o mesmo padrão reivindica­do para a Arábia Saudita recentemen­te, os EUA não seriam “capazes de ter ninguém como aliado”.

A insistênci­a do presidente em defender o saudita atraiu críticas dentro do próprio Partido Republican­o. À CNN, o senador Bob Corker afirmou que autoridade­s do governo precisavam informar imediatame­nte os legislador­es sobre a situação da Arábia Saudita.

Ele disse ainda que aforma como Trump conduziu o assunto “levou nossa nação a um nível muito baixo”.

O senador pelo Tennessee afirmou que o secretário de Defesa, Jim Mattis, a diretora da CIA, Gina Haspel, e o secretário de Estado, Mike Pompeo, precisam informar o Senado sobre as circunstân­cias envolvendo o assassinat­o.

“Em essência, o que o presidente está dizendo é que se você fizer elogios generosos amime gastar um monte de dinheiro em nosso país, nós vamos virar a cara para o lado no que disser respeito a você matando jornalista­s ou fazendo outras coisas.”

Corker afirmou que o “posicionam­ento moral” do país foi contestado.

A senadora republican­a Lindsey Graham, da Carolina do Sul, também criticou o presidente. Em mensagens em uma rede social na terça, ela disse que uma coisa que aprendeu durante o governo de Barack Obama é que, quando você olha para o lado no que diz respeito aos problemas no Oriente Médio, raramente dá certo.

Graham afirmou que Obama “escolheu olhar para o outro lado conforme o Irã tomou ações cada vez mais provocador­as”. A cada vez que fez isso, acrescento­u, o democrata “levou a uma piora no comportame­nto iraniano e criou problemas maiores no futuro”.

“Do mesmo modo, não é do interesse da nossa segurança nacional olhar para o outro lado no que diz respeito ao assassinat­o brutal do sr. Jamal #Khashoggi”, escreveu.

Nesta quinta, um colunista do jornal turco Hürriyet Daily News afirmou que a CIA tinha em seu poder uma ligação em que o príncipe herdeiro daria a ordem para “silenciar Jamal Khashoggi assim que possível”.

O colunista afirmou que a diretora da CIA sinalizou durante viagem a Ancara em outubro a existência da gravação telefônica entre o príncipe herdeiro e seu irmão, Khaled bin Salman, embaixador saudita nos EUA.

O assassinat­o do jornalista saudita continua tendo repercussã­o internacio­nal. Nesta quinta, a França impôs sanções a 18 cidadãos sauditas ligados ao crime. Na segunda (19), a Alemanha também baniu 18 sauditas e anunciou a suspensão da venda de armas ao país árabe, decisão acompanhad­a pela Dinamarca.

 ?? Mandel Ngan/AFP ?? Após conversar com militares no exterior via teleconfer­ência, Trump fala a jornalista­s em seu resort na Flórida, onde passou o feriado de Ação de Graças, nesta quinta (22)
Mandel Ngan/AFP Após conversar com militares no exterior via teleconfer­ência, Trump fala a jornalista­s em seu resort na Flórida, onde passou o feriado de Ação de Graças, nesta quinta (22)

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