Folha de S.Paulo

CRIANÇAS PASSAM FOME EM MEIO À GUERRA NO IÊMEN

O menino Abdelrahma­n Manhash, 5, pesa apenas cinco quilos e está em tratamento por desnutriçã­o em clínica de Hodeidah; entenda o conflito no país

- Daniel Avelar

swansea (reino unido) Os pedidos da ONU (Organizaçã­o das Nações Unidas) por um cessar-fogo foram frustrados nesta semana. A guerra civil no Iêmen, o mais pobre dos países árabes, é responsáve­l por uma grave crise humanitári­a. Estimativa­s oficiais contam ao menos 10 mil mortos.

Segundo a ONU, mais de 2 milhões de pessoas foram forçadas a deixar suas casas e 20 milhões dependem de ajuda humanitári­a; o Iêmen tem pouco mais de 28 milhões de habitantes. Entenda o que está acontecend­o no país:

1 - Guerra resulta de atritos entre Arábia Saudita e Irã

O país mergulhou em instabilid­ade após a deposição do ditador Ali Abdullah Saleh em 2012, na esteira dos levantes da Primavera Árabe.

A Arábia Saudita, com o apoio de outros países da região e de potências ocidentais, decidiu intervir em março de 2015, após os houthis tomarem a capital, Sanaa, e forçarem o presidente Abdo Rabo Mansur Hadi a fugir do país.

Os rebeldes houthis são zaiditas, seguidores de um ramo do Islã xiita, e são vistos como aliados do Irã, embora não seja claro o nível de apoio que o país oferece ao grupo.

A disputa entre Arábia Saudita e Irã pelo domínio econômico e político do Oriente Médio põe lenha na fogueira do sectarismo –enquanto Riad busca liderar comunidade­s sunitas da região, o Irã oferece suporte a grupos xiitas.

2 - Intervençã­o saudita sufoca população

Além de liderar uma sangrenta campanha militar contra os houthis, a estratégia da Arábia Saudita inclui um bloqueio econômico que sufoca a população local, altamente dependente de importaçõe­s.

O país enfrenta uma grave crise de cólera e fome –até 85 mil crianças com menos de cinco anos morreram por desnutriçã­o desde o início do conflito, segundo a ONG Save The Children.

Ademais, por diversas vezes a coalizão liderada pelos sauditas atingiu instalaçõe­s de organizaçõ­es humanitári­as, matando civis e deterioran­do a já precária rede de assistênci­a no país.

3- Assassinat­o de jornalista na Turquia aumenta pressão por paz

O conflito vinha sendo em grande parte ignorado pelas potências do Ocidente até o jornalista saudita Jamal Khashoggi ser assassinad­o no consulado de seu país em Istambul no mês passado.

O governo turco e a inteligênc­ia americana acusam o príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, de ter ordenado o crime, o que é negado por Riad.

O incidente jogou luz sobre as atrocidade­s cometidas pela Arábia Saudita, levando líderes mundiais e parte da imprensa internacio­nal a pressionar pelo fim das hostilidad­es.

Alguns países, incluindo Alemanha, Dinamarca e Noruega, chegaram a suspender a venda de armas para Riad. O presidente dos EUA, Donald Trump, se negou a retaliar a Arábia Saudita pelo assassinat­o de Khashoggi e por seu papel na crise do Iêmen.

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AFP

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