Folha de S.Paulo

Separação litigiosa

-

Acerca de saída do Reino Unido da União Europeia.

Empenho não falta à primeirami­nistra Theresa May no propósito de chegar a um entendimen­to sobre o “brexit”, a saída do Reino Unido da União Europeia. Sua busca bem-intenciona­da por mitigar possíveis efeitos colaterais da retirada, porém, tem se mostrado inglória ante tantas divergênci­as, especialme­nte internas.

Em perspectiv­a, parece claro, agora, que nem a população nem as autoridade­s tinham dimensão da complexida­de do processo quando, em junho de 2016, 52% dos britânicos decidiram se desligar do bloco.

May chegou ao poder um mês depois do sufrágio, e desde então procura, sem sucesso, consenso sobre os termos da separação. Há pouco tempo para tanto, pois o prazo das negociaçõe­s expira em 29 de março do ano que vem.

O recente anúncio de um acerto técnico com os representa­ntes europeus não bastou para convencer o próprio gabinete da líder conservado­ra —dois secretário­s de uma pasta criada para tratar do ‘brexit’ já renunciara­m sob o argumento de que a mandatária tem se dobrado a imposições de Bruxelas, onde fica o braço executivo da UE.

Em um de seus pontos mais controvert­idos, a proposta estabelece uma união aduaneira entre o Reino Unido e os demais países-membros. Seria uma maneira de evitar a reinstalaç­ão de postos de controle alfandegár­io na fronteira da Irlanda (integrante da União Europeia) com a Irlanda do Norte, que faz parte do território britânico.

A questão irlandesa tornou-se central na discussão. Afinal, temese que a criação de barreiras, inclusive quanto à circulação de pessoas, reavive um conflito no Norte entre nacionalis­tas (simpáticos à fusão com a Irlanda) e os partidário­s da autoridade britânica.

Ocorre que a ala do Partido Conservado­r favorável ao chamado “brexit duro” rejeita um alinhament­o ao sistema tarifário europeu, por entender como perda de soberania na seara comercial.

A dificuldad­e de May de unir seus correligio­nários tem sido explorada pela oposição, que também critica o plano de retirada do bloco. Uma fração do Partido Trabalhist­a defende uma nova consulta popular, rechaçada pela governante, com base em pesquisas segundo as quais, agora, a maioria votaria por permanecer no bloco.

Conviria à primeira-ministra conseguir aprovar o acordo de retirada nos Parlamento­s britânico e europeu, por mais lacunas que venha a ter, e definir detalhes ao longo do período de transição, até o fim de 2020. É preciso ter em mente, contudo, que não há como gestar um “brexit” agradável para todos.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil