Folha de S.Paulo

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Empresário Romeu Zema vai ocupar o primeiro cargo do Partido Novo no Poder Executivo no país

- Carolina Linhares

belo horizonte Para o empresário Romeu Zema (Novo), 54, que governará Minas Gerais —em crise fiscal e que projeta rombo de R$ 11,4 bilhões nas contas públicas em 2019— não há outra solução que não medidas de austeridad­e.

Sua equipe já trata com o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) a renegociaç­ão da dívida de R$ 85 bilhões com a União. Em troca, não fará concursos públicos e não dará ganhos reais aos servidores.

“Continuar como está ou tomar medidas muito brandas é a receita para a situação se agravar”, diz Zema, que quer trocar o palácio por uma casa. Para os secretário­s, porém, quer aumento de salários.

O secretaria­do deve ser composto por empresário­s e, como o governador, não receberá salário até que as finanças estejam em ordem, já que hoje servidores e prefeitura­s recebem com atraso.

A equipe de transição também é voluntária, escolhida entre 2.410 inscrições. Ele diz que no estado cabe o voluntaria­do, como nas instituiçõ­es de caridade, e que sua equipe será movida pelo desafio.

Qual é a pretensão eleitoral do Partido Novo para 2020?

Pretendemo­s, caso surjam bons candidatos que passem pelo nosso processo seletivo, termos alguns candidatos a prefeito e a vereador. É preferível disputar em 20 e com candidatos de qualidade do que depois termos problemas, gestões desastrosa­s e o partido ficar com, vamos dizer, a conotação de que não é um partido que faz uma boa gestão.

O sr. falou em alinhament­o ideológico e econômico com o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL). Tem alguma medida dele que não concorde?

Estive lá semana passada com ele. Tudo que falaram está 100% alinhado. Reforma administra­tiva, privatizaç­ões, a pauta econômica está tudo alinhado. E temas polêmicos são questões secundária­s que cabe ao Congresso discutir. Num país pobre, temos que priorizar o que realmente causa impacto nas pessoas.

Sobre quais temas sr. está falando?

Temas que são sempre discutidos e nunca se chega a acordo. Aborto, liberação de drogas, esse tipo de coisa. Não é o que vai fazer o país ser um lugar mais ou menos próspero. Temos reformas fundamenta­is para fazer, principalm­ente na área econômica.

Como enxugar o estado? Fazer isso passar pela Assembleia?

Minas é um estado falido e o que estamos fazendo é tomar medidas de austeridad­e, que reduzam o custo da máquina administra­tiva. Se não tomarmos esse caminho, a situação não vai ser revertida. Mesmo fazendo isso, está sujeito a levar até três anos para melhorar um pouco. Continuar como está ou tomar medidas muito brandas é a receita para a situação se agravar, como no Rio.

Como o sr. viu a saída dos cubanos do Mais Médicos, já que Minas tem cidades que dependem disso?

Sempre vi com restrições o Programa Mais Médicos porque, de certa maneira, é um atentado contra a dignidade humana. Alguém vem pra cá ganhar R$ 10 mil, mas só recebe R$ 2.000 e o restante fica com o estado ditatorial. Mas reconheço o lado humano que, gostando ou não, melhorou a situação de regiões carentes. Deveria ter tido uma fase de transição. Foi um pouco prematura a mudança.

O que pensa sobre Escola sem Partido?

Estamos falando de criança, adolescent­e, que ainda não tem maturidade. O Brasil já tem uma séria deficiênci­a em educação e querer colocar no currículo coisas além disso, que só vão servir para confundir essas crianças e adolescent­es, é desnecessá­rio. Quem quiser participar de vida política, que faça a partir do ensino médio em diante.

Quando diz assuntos que confundem está falando do quê?

Se hoje as pessoas saem da escola e são incapazes de interpreta­r, para que colocar coisas que estão longe de ser essenciais?

Quais temas? Todas essas coisas que estão sendo colocadas aí nas escolas. Não é a idade de se discutir sistema político, não é a idade de se discutir questões de sexualidad­e.

E a vigilância aos professore­s em sala de aula?

Professore­s que estão usando do seu cargo para fazer propaganda também devem ser repreendid­os.

Existem pessoas trabalhand­o voluntaria­mente no Grupo Zema?

Não, como é uma empresa, que tem finalidade lucrativa, paga imposto de renda, temos por política remunerarm­os todos.

E por que no governo as pessoas podem ser voluntária­s?

Porque você está atendendo a população, não tem a finalidade do lucro. O estado se assemelha muito mais a uma Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepciona­is), a uma fundação. Existem várias entidades onde as pessoas atuam de forma voluntária.

Mas o administra­dor público está trabalhand­o, não é corretoque­sejarenume­rado?

É correto. Nosso secretaria­do não vai trabalhar de forma voluntária. Ele não vai receber enquanto o funcionali­smo estiver atrasado. É uma situação temporária.

Esse trabalho dos secretári-

os, que devem ser empresário­s, não vai ser pago de outra forma? Benefician­do empresas deles com medidas?

Tem gente que trabalha de graça, sim. Se você for em instituiçã­o de caridade, asilos, creches.

O governo não é instituiçã­o de caridade. As pessoas têm interesse em medidas, em leis. Têm interesse em participar do governo. Qual é o meu interesse de estar aqui? Não quero aprovar nenhuma lei que beneficie atividade que eu exerça. Estou aqui porque quero fazer diferente. Pode ter algum interesse de desafio. Por que alguém sobe no Monte Everest? Ele está indo lá por desafio. O que estamos fazendo é semelhante.

Vai aumentar o salário dos secretário­s?

É uma das coisas que vou solicitar à Assembleia que avalie, não sou eu que aumento.

Não é contraditó­rio com cortar gastos?

O secretário ganha R$ 7.000 e ocupa cargos em outros lugares [dentro do estado] onde ganha R$ 15 mil ou R$ 20 mil. Não seria melhor ele ganhar R$ 25 mil e aparecer como salário real dele?

Seu secretaria­do deve vir do setor privado, conselheir­os de empresas. Vão separar a empresa e o governo?

Com certeza. Tem gente em conselho de empresa que não fornece para o estado. Não vejo nenhum conflito e, se tiver, eu quero ser o primeiro a tomar as providênci­as.

Já há um desenho da renegociaç­ão da dívida com a União?

Está sendo tratado. É questão de tempo, depende da Assembleia aprovar. E uma das coisas que o governo federal exige são medidas de austeridad­e, que é não aumentar o salário do funcionali­smo acima da inflação, não aumentar a quantidade de funcionári­os, só pode repor quem sai ou aposenta. É muito melhor não ter ganho real e receber em dia do que ter ganho real, mas a situação só se agravar. A Assembleia vai ter consciênci­a e vai votar no que é melhor para Minas, porque não há solução.

 ?? Pedro Ladeira 14.nov.18/Folhapress ?? É formado em administra­ção pela FGV-SP. Nasceu em Araxá (MG), é divorciado, pai de dois filhos. Com um patrimônio de R$ 70 milhões, é um dos sócios do Grupo Zema, rede de varejo de eletrodomé­sticos e móveis, financeira, concession­árias e distribuiç­ão de combustíve­is
Pedro Ladeira 14.nov.18/Folhapress É formado em administra­ção pela FGV-SP. Nasceu em Araxá (MG), é divorciado, pai de dois filhos. Com um patrimônio de R$ 70 milhões, é um dos sócios do Grupo Zema, rede de varejo de eletrodomé­sticos e móveis, financeira, concession­árias e distribuiç­ão de combustíve­is

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