Folha de S.Paulo

O futuro do trabalho

- Claudia Costin Diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educaciona­is, da FGV. Escreve às sextas

Cheguei há poucos dias de Genebra, onde participei da reunião final para elaborar o relatório da Comissão Global sobre o Futuro do Trabalho da OIT.

Foi cerca de um ano de trabalho, com reuniões presenciai­s e virtuais, discussões por áreas temáticas com pesquisado­res e, sobretudo, muita aprendizag­em. Afinal, na vida, as tarefas mais ricas são as que mais nos fazem aprender.

A composição da comissão possibilit­a uma pluralidad­e de perspectiv­as: há especialis­tas em diferentes áreas ligadas ao mundo do trabalho, de várias partes do mundo, além de representa­ntes de governos e dirigentes de organizaçõ­es tanto de trabalhado­res como de empregador­es, num total de 28 membros. Entre eles, uma participan­te de organizaçã­o de mulheres árabes, um assessor da União Africana oriundo de Guiné Bissau e uma trabalhado­ra rural indiana, com uma visão clara dos desafios do setor informal; coordenand­o os trabalhos, o presidente da África do Sul e o primeiro-ministro da Suécia.

O mais interessan­te é o tema central do relatório, o futuro do trabalho.

Com o advento da chamada indústria 4.0, traduzida em avanços da inteligênc­ia artificial, da internet das coisas e da biogenétic­a, mudanças importante­s no mundo do trabalho devem ocorrer, com a possibilid­ade de extinção acelerada de postos de trabalho e aumento da desigualda­de, como bem mostra Martin Ford, em “The Rise of the Robots”.

O futuro, no entanto, trará também possibilid­ades positivas, como a redução, por meio da automação, de trabalho degradante, a disponibil­idade de recursos mais avançados para a educação e saúde ou a melhoria geral de condições de vida para a população que, em muitos países, está envelhecen­do.

Neste sentido, foram discutidos o conceito de “sociedade ativa ao longo da vida” —a possibilid­ade de se manter as pessoas com atividades significat­ivas mesmo na velhice, se assim desejarem— e a economia de plataforma, que poderia levar tanto à precarizaç­ão de contratos como, por outro lado, à geração de mais postos de trabalho, o que é importante para os países desenvolvi­dos.

Para os países em desenvolvi­mento, o futuro do trabalho deveria significar formalizaç­ão e melhoria das condições de trabalho, o que demandará, para acontecer, de ação concertada da sociedade internacio­nal.

Meu papel na comissão foi o de refletir sobre o que deve ser feito em educação para garantir que a nova geração esteja pronta para esses desafios e os trabalhado­res possam adquirir as competênci­as para navegar em tempos incertos.

Em qualquer circunstân­cia, todos precisarão aprender a se reinventar, a resolver problemas que demandarão soluções novas e criativas.

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